Reaproximação entre Lula e Marina Silva era um dos mais esperados na agenda política nacional, em meio ao desmonte da política ambiental promovido por Bolsonaro
Passada mais de uma década desde a sua saída do Ministério do Meio Ambiente e da desfiliação do Partido dos Trabalhadores (PT), a ex-senadora Marina Silva deixou para trás as desavenças com Luiz Inácio Lula da Silva, e oficializou, nesta segunda-feira (12), apoio à candidatura do petista. A reaproximação entre Marina e Lula foi oficializada durante coletiva de imprensa em São Paulo. Os dois trocaram afagos e elogios um ao outro. No domingo, eles já tinham se encontrado para acertar os últimos detalhes para o acordo de reaproximação.
A adesão de Marina à candidatura presidencial do PT aconteceu após Lula assumir os “compromissos de resgate da agenda socioambiental brasileira perdida”, entregue a Lula por meio de uma carta. Entre os tópicos do documento está o comprometimento do próximo governo em reestruturar a atuação de órgãos como Ibama, ICMBio, do próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA) e do Serviço Florestal Brasileiro (FSB).
Ainda é solicitada a ação integrada e coordenada de diferentes Ministérios para atualizar os “planos de prevenção e controle do desmatamento da Amazônia (PPCDAm) e do Cerrado (PPCerrado) e estabelecer planos similares para os demais biomas brasileiros”. Para ela, a partir dessas ações, o Brasil pode chegar à meta do desmatamento zero. Marina Silva ainda defendeu a necessidade de criação da autoridade nacional para enfrentamento das mudanças climáticas, a retomada da demarcação de terras indígenas e a criação de novas unidades de conservação.
“Estamos vivendo aqui um reencontro político e programático, porque do ponto de vista das relações pessoais, tanto eu quanto o presidente Lula nunca deixamos de estar próximos. O nosso reencontro político e programático se dá diante de um quadro grave da história política, econômica, social e ambiental de nosso país”, disse Marina.
De acordo com a candidata, o Brasil precisa reestruturar suas políticas para o meio ambiente com base nas mesmas diretrizes adotadas em 2003, quando Lula assumiu pela primeira vez a Presidência, e ela foi convidada para assumir o MMA. Essas diretrizes são a adoção de uma política ambiental transversal, “com controle e participação social”, que haja o fortalecimento do Sistema Nacional de Meio Ambiente e do desenvolvimento sustentável.
Ao assumir a palavra, Lula afirmou que a agenda ambiental de sua primeira passagem pelo governo será retomada, e voltou a dizer que “não haverá mais garimpo ilegal neste país”. “Este país tem que virar protagonista internacional na questão do clima”, declarou o petista. Mais uma vez disse que não se pode transformar a “Amazônia num santuário”, é que é possível explorar as riquezas do bioma de forma sustentável.
O ex-presidente afirmou que as questões ambientais serão levadas a sério em seu possível retorno ao Palácio do Planalto, incluindo as propostas apresentadas por Marina Silva. “A nossa primeira tarefa é ganhar as eleições. E, quando ganharmos, a política ambiental será tratada de maneira transversal. Todos os ministros terão responsabilidade de cuidar da política climática”, disse ele.
Passado deixado para trás
Entre 2003 e 2008, Marina ocupou a pasta do Meio Ambiente do ex-presidente petista, onde enfrentou uma série de desgastes políticos por conta de pressões para a concessão de licenciamentos para obras de grandes impactos ambientais, como as usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia.
Um dos principais embates foi com a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, que tinha pressa para o início das obras. Mas, a gota final para o seu afastamento foi a entrega da gestão do Plano Amazônia Sustentável para o filósofo Roberto Mangabeira Unger, à época ministro de assuntos estratégicos e hoje um dos ideólogos da campanha de Ciro Gomes à presidência.
Marina Silva também foi fortemente atacada pelo PT durante a campanha de 2014, quando assumiu a liderança da corrida presidencial após a morte de seu companheiro de chapa pelo PSB, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos.
Após três disputas sucessivas à Presidência, agora Marina concorre a deputada federal pela Rede de São Paulo. A ex-ministra é vista como um dos mais importantes nomes da política ambiental brasileira, e seu apoio à candidatura de Lula era aguardada com bastante expectativa por conta do atual momento político do país, que vê suas instituições ambientais desmontadas pela atual gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL).
Fonte: O Eco
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