Amazônia
Hoje (5/9) celebra-se o Dia da Amazônia. A data é simbólica em muitos aspectos: tal como a floresta, poucos brasileiros a conhecem de fato. A falta de conhecimento contribui para uma distorção – aproveitada por aqueles com interesses econômicos na destruição da floresta – no debate público sobre a Amazônia: muitos falam dela como se fosse meramente um grande estoque de recursos naturais, pronto para ser consumido. Nessa discussão, os defensores da floresta são pintados como “abraçadores de árvore” e, assim, ignorados.
Para os Povos Indígenas, no entanto, este não é um debate abstrato. A defesa da floresta, que serve de abrigo há milênios para muitos deles, se mescla à luta por sua própria sobrevivência. Ou seja, a floresta não é apenas um balaio de riquezas econômicas, mas um universo de vida e renovação que alimenta e conforta incontáveis gerações humanas.
“O Brasil não conhece a Amazônia, vê nela apenas o ouro, a prata e o dinheiro, mas não enxerga suas verdadeiras riquezas. Não vê a vida acontecendo nas plantas e nos animais”, observou Txai Suruí na Folha. “Ela nos alimentou, abrigou e protegeu enquanto plantávamos e cuidávamos dela. Hoje somos nós quem a protegemos e ela continua a nos ajudar a criar nossos filhos e fortalecer nossos espíritos”.
Na luta pela sobrevivência da floresta e dos Povos Indígenas, o momento atual não poderia ser mais dramático. O avanço do desmatamento, das invasões de Terras Indígenas, do garimpo e dos sucessivos ataques do poder público colocam a Amazônia em uma crise existencial inédita. O contexto eleitoral e a possibilidade de uma derrota do atual presidente Jair Bolsonaro intensificou o problema: para a turma da devastação, o momento é de “saideira”, destruindo tudo o que pode antes que o governo mude de mãos.
“Eles perceberam que é sua última oportunidade de desmatar sem pagar o preço”, lamentou o ativista Roni Lira ao jornalista Tom Phillips no Guardian. Junto com outros jornalistas, e com o apoio do ClimaInfo e de outras organizações socioambientais, Phillips sobrevoou a região do Tapajós na última semana para registrar o avanço do desmatamento e das queimadas dentro da Terra Indígena Munduruku. “Do jeito que eles [desmatadores] veem, esta é a última dança. Ou eles fazem isso agora, ou eles fazem agora”.
Em tempo: A Associated Press destacou a morte de dois “guardiões da floresta” na Terra Indígena Araribóia, no Maranhão. De acordo com o Conselho Missionário Indigenista (CIMI), Janildo Oliveira Guajajara e Joel Carlos Miranda Guajajara foram mortos em duas situações diferentes na última semana. Janildo foi baleado nas costas em um ataque na manhã da 4a feira (31/8), junto com outro patrulheiro guajajara. Já Jael foi atropelado por um veículo no mesmo dia em outra localidade.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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