No final de julho, a PF encaminhou um pedido ao ministério da defesa para que as Forças Armadas apoiassem a retirada de invasores na Terra Indígena Trincheira/Bacajá, na região de São Félix do Xingu (PA). De acordo com Vinicius Sassine na Folha, a pasta ainda não respondeu à requisição, mesmo com a oferta de ressarcimento dos gastos dos militares pelo ministério da justiça.
A falta de resposta do comando das Forças Armadas tem sido uma constante sob o atual governo federal em ações de fiscalização e combate a ilegalidades em Terras Indígenas na Amazônia. Outrora vendidos pelo Palácio do Planalto como melhor preparados para combater o desmatamento e as queimadas na floresta, os militares não têm sequer fornecido aeronaves para operações de outras forças de segurança pública na região.
A Terra Trincheira/Bacajá faz parte do rol de áreas indígenas para as quais o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ações imediatas do governo federal para expulsar não-indígenas. A PF conduz a operação de retirada dos invasores desde o último dia 24, quase um mês depois da data prometida em abril pelo governo ao STF. Sem o apoio das Forças Armadas, a parte logística da operação fica prejudicada, especialmente pela falta de infraestrutura para abrigar os agentes de segurança e o transporte deles para as áreas de ação.
A omissão dos militares contrasta com o estado de insegurança e medo que reina na Amazônia e em outras partes do interior do Brasil. A situação ficou explícita nos últimos meses em virtude dos assassinatos de Bruno Pereira e Dom Phillips no Vale do Javari, no oeste do Amazonas, e os ataques da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul a famílias Guarani-Kaiowá em uma operação de desapropriação não-autorizada pela Justiça.
“Vivemos na ponta da bala… confesso que não sei como será quando eu voltar para casa”, desabafou Ismael Cunha, agricultor assentado em Timbiras (MA), citado pela Agência Pública. A área onde ele e outras 400 famílias vivem está em processo de desapropriação pelo INCRA para reforma agrária, mas madeireiros, fazendeiros e seus pistoleiros estão ameaçando os camponeses de forma cada vez mais explícita, sem medo da Justiça.
Nesta semana, a Comissão Pastoral da Terra (CPT), junto com outras 50 organizações da sociedade civil e com apoio da Cáritas Brasileira, lançou a campanha “Contra a Violência no Campo: Em Defesa dos Povos do Campo, das Águas e das Florestas”. Um dos objetivos é destacar como os conflitos fundiários explodiram nos últimos três anos, sob o atual governo federal. “O não-reconhecimento dos direitos dos povos do campo, da floresta e das águas, o alinhamento do poder executivo aos interesses do capital e do crime organizado e a impunidade dos crimes no campo são as principais causas dos conflitos”, disse Andreia Silvério, uma das coordenadoras da (CPT).
Em tempo: A jornalista Sylvia Colombo escreveu no jornal norte-americano The Washington Post sobre o avanço do crime organizado e da violência na Amazônia e a falta de ação do governo federal no combate às ilegalidades. “Para começar a salvar a Amazônia, é preciso que Bolsonaro deixe a presidência no final deste mandato. A região não está preparada para mais quatro anos de destruição. O Brasil e o mundo precisam conservar a maior floresta tropical do planeta”.
Texto publicado originalmente em CLIMA INFO
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