Fomos acostumados a esperar que alguém venha aqui nos dizer o que e como fazer. Por vezes, afirmamos o que seria melhor fazer, mas poucos estão dispostos a nos ouvir. Enquanto isso, seguimos, com o Leviatã distraído com afazeres que não dizem respeito aos que por aqui vivem.
Por Augusto Cesar Rocha
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Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, associou a imagem do Estado com a figura de um leviatã – um monstro que protegeria seus cidadãos. Em 2020, Daron Acemoglu e James Robinson, colocaram este monstro em um “corredor estreito” ou agrilhoado, destacando a forma de realização competente do papel do Estado. Segundo eles, com base em Hayek e ampla literatura, a sociedade faria uso de funcionários do Estado “presentes e com meio e motivação para cumprir a sua missão”. Não parece ser o caso na Amazônia. Não parece que temos uma decisão clara sobre o papel do Estado por aqui.
O que temos é uma região com amplo potencial, em uma espera eterna para um futuro que nunca chega. É como se o senso temporal tivesse uma característica muito diferente do que no resto do planeta. Mais que um Leviatã ausente, temos um Leviatã que faz promessas e que não as cumpre. Reitera as mesmas promessas e juras, mas segue sem cumpri-las. Salvo nos grandes centros, temos uma potencialidade enorme, que é explorada arranhando-se seus recursos, mas não de uma forma constante e responsável – ou sustentável, como se esperaria fosse o caminho natural
Este Leviatã parece não ter senso de interesse próprio. Acontece que explorar com sustentabilidade os recursos da Amazônia é trabalhoso e lento. É um esforço para décadas de trabalho: quem está disponível para um prazo tão longo, em um mundo que vive do curto prazo? Entretanto, um Leviatã vive muito. Assim, o senso de urgência se esvai, porque já há impostos abundantes por aqui. As elites que arranham a região, seguem a arranhá-la, tirando vantagens minúsculas ou enormes, dependendo do grupo e do risco que correm.
Enquanto não há infraestrutura, sobra algum respeito ao meio ambiente, um pouco pelas áreas inatingíveis, um pouco pela falta de economicidade e um pouco por tudo o que ignoramos. Ou seja, a fonte do respeito é causada pelo alto custo da exploração e não por uma consciência da preservação para gerações futuras. Fomos acostumados a esperar que alguém venha aqui nos dizer o que e como fazer. Por vezes, afirmamos o que seria melhor fazer, mas poucos estão dispostos a nos ouvir. Enquanto isso, seguimos, com o Leviatã distraído com afazeres que não dizem respeito aos que por aqui vivem.
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