“Quero expressar minha eterna gratidão aos indígenas, leais guardiões da vida, da justiça e das florestas”, declara Alessandra Sampaio, viúva de Dom Phillips, no velório
Antes da cerimônia reservada à família e aos amigos, no domingo, antes do funeral de Dom Phillips – a imprensa e o representante do governo do Reino Unido, Anthony Preston, acompanharam os pronunciamentos de Alessandra Sampaio e Sian Phillips, respectivamente viúva e irmã do jornalista, no Cemitério Parque da Colina, em Niterói (RJ), cidade onde vive a família de Alessandra.
Dom foi assassinado no Vale do Javari, no estado do Amazonas, junto com amigo e indigenista Bruno Pereira, em 5 de junho, durante expedição realizada para finalizar as entrevistas com os indígenas da região para o último capítulo do livro que estava escrevendo e que seria publicado até o final deste ano: ‘Como Salvar a Amazônia’.
Livro póstumo
Sian Phillips, irmã de Dom, foi a primeira a falar. Agradeceu a atenção, o carinho e o amor de todos que acompanharam o desenrolar das investigações do crime e se solidarizaram com sua família e a de Bruno.
Destacou, ainda, que os dois morreram porque contavan ao mundo sobre a exploração ilegal dos recursos naturais da região, que coloca os povos e a floresta em risco.
Também falou dos planos de Dom e Alessandra de adotarem crianças brasileiras e da tristeza que causava saber que o irmão não teve a oportunidade de revelar o pai maravilhoso que seria.
Por fim, deu uma linda notícia: o livro que Dom escrevia será finalizado com a ajuda da família e dos amigos. “Mesmo em tempos de tragédia, a história deve ser contada”.
Solidariedade, justiça e consciência
Visivelmente emocionada, Alessandra salientou a companhia e atuação indígenas do Vale do Javari:
“Primeiro, eu gostaria de expressar minha eterna gratidão aos povos indígenas, que seguem junto conosco como leais guardiões da vida, da justiça e das nossas florestas. Meu especial agradecimento à Univaja, parceria deste momento tão difícil”.
Em seguida, estendeu seus agradecimentos “a todos que participaram das buscas ativamente, sejam órgãos oficiais ou pessoas físicas (…) e imensamente à imprensa e aos amigos jornalistas que têm sido fundamentais nos esforços de apuração do caso, na cobrança por transparência nas investigações e na mobilização que permitiu que chegássemos todos até aqui”.
Alessandra lembrou de todos que se que solidarizam com Dom e Bruno e também com suas famílias, no Brasil e em outros países, e acrescentou: “Esse movimento mundial de solidariedade e justiça e de consciência pela conservação da natureza e dos povos que a protegem traz uma imensa esperança a todos nós, eu tenho certeza disso”.
Destacou o amor de Dom pelo Brasil – “Hoje, Dom será cremado no país que amava, seu lar escolhido, o Brasil” – e pela humanidade: “Ele era uma pessoa muito especial, não apenas por defender aquilo que acreditava, como profissional, mas também por ter um coração enorme e um grande amor pela humanidade. Vamos celebrar a doce memória de Dom e a sua presença em nossas vidas”.
A viúva ainda pediu a compreensão de todos para que a família e os amigos vivam “um tempo de paz para podermos lidar com o luto e com a perda irreparável de nosso amor Dom”, e finalizou:
“Seguiremos atentos a todos os desdobramentos das investigações, exigindo justiça no significado mais abrangente do termo. Renovamos a nossa luta para que nossa dor e a da família de Bruno Pereira não se repitam. Como também as das famílias de outros jornalistas e defensores do meio ambiente, que seguem em risco”. E enfatizou: “Seguem em risco!”.
Texto publicado originalmente em Conexão Planeta 27/06/2022
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