Há 93 anos, partindo do látex da selva, e discutindo agora mais uma vez o seu futuro pós ZFM apostando no retorno à mesma selva biológica, mesmo ainda pouco conhecida, será preciso um novo paradigma.
Por Juarez Baldoino da Costa
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38 anos dos ciclos da borracha mais 55 de Zona Franca de Manaus totalizam os 93 anos em que o Amazonas registrou expressão econômica de destaque nacional, embora concentrada em Manaus. Com o látex a capital erigiu importantes e imponentes palacetes, teatro, sistema de saneamento e porto flutuante, e com os incentivos fiscais se tornou líder cosmopolita do Brasil em crescimento populacional, com adicionais 2 milhões de habitantes, muitos por imigração.
Ao interior pouco de conseguiu agregar, e apenas os municípios da Região Metropolitana na última década experimentaram algum avanço no comércio, mais em função do crescimento populacional causado também por importante influência da ZFM, que gera demanda neste seguimento.
A desigualdade econômica neste quase um século entre os amazônidas interioranos e os amazônidas da cidade-estado manauara tem se alargado continuamente, conforme vem divulgando o IBGE por seus indicadores sociais e econômicos. Não se pôde fazer mais pelo interior talvez porque os vários planos elaborados e até alguns projetos executados o foram a partir de uma concepção dissociada do ambiente físico ao qual pretenderam alcançar. Os governantes e a sociedade em geral não deixaram de tentar a busca pelo desenvolvimento, com menor ou maior competência e eventualmente até com mais ou menos lisura. Os amazonenses sempre buscaram o melhor para si, como qualquer outro povo.
Não foram 93 anos perdidos, mas 93 anos do que foi possível. E há um efeito macroeconômico relativamente simples que talvez possa explicar este resultado, composto principalmente de 3 fatores: O primeiro, é que o necessário investimento em infraestrutura quando os recursos não são abundantes, é priorizado para obter o melhor resultado social e econômico possível. A quase totalidade dos critérios de eleição de gastos públicos está vinculada ao número de habitantes a serem alcançados, e neste quesito o Amazonas do interior tem um dos menores contingentes, com 2 milhões de pessoas, menos de 1% do país.
O segundo fator é que sua área de 1,57 milhão de Km² produz um dos menores índices de densidade demográfica, com 1,3 habitantes/km², comparando com os 1.800 habitantes/km² da área urbana de Manaus ou com os 7.664 habitantes/km² de Cingapura. O terceiro fator é o seu relevo, composto de ambiente anualmente influenciado por cheias e vazantes em seus milhares cursos d´água, e acesso limitado por via aérea e rodoviária.
Baixa densidade demográfica, a maior extensões territorial do país e características de relevo incomuns com obstáculos naturais de transposição trabalhosa, tornam o Amazonas um objeto que exige um planejamento diferenciado, ainda não considerado.
Há 93 anos, partindo do látex da selva, e discutindo agora mais uma vez o seu futuro pós ZFM apostando no retorno à mesma selva biológica, mesmo ainda pouco conhecida, será preciso um novo paradigma para mudar os dados do IBGE.
Manter o mesmo curso nos levará ao inexorável mesmo destino.
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