No final, os lobbies fósseis e nucleares conseguiram da Comissão Europeia a inédita classificação de que são verdes: “as atividades de gás [natural] e nucleares estão em conformidade com os objetivos climáticos e ambientais da UE e nos permitirão acelerar a mudança de atividades mais poluentes, como a geração de carvão, para um futuro neutro do ponto de vista climático, baseado principalmente em fontes de energia renováveis.” Chamou a atenção esse “principalmente” no final da frase, deixando a porta aberta para perenizar o greenwashing.
A decisão faz parte do que foi chamado de “taxonomia para finanças sustentáveis”, documento que servirá de guia para o setor financeiro alocar recursos para alavancar a transição. Agora ficará mais difícil para que outros países e blocos fechem a porta que os europeus deixaram aberta.
Membros da Comissão Europeia disseram que a decisão permitirá ao bloco o cumprimento de suas metas para 2030, mas não explicaram como reduzirão 50% das emissões até o final da década pintando de verde uma infraestrutura e bilhões de investimento que durarão pelo menos até o meio do século.
O Guardian ouviu membros do Parlamento Europeu que disseram que a credibilidade climática da UE sofreu um pesado golpe. O Washington Post ouviu um especialista que comparou a decisão com a compra de produtos orgânicos: “Se quiser comprar algo com um rótulo orgânico, você não irá querer que seja 20% não orgânico”.
O Financial Times conta que os governos de Espanha, Áustria, Dinamarca, Holanda, Suécia e Luxemburgo criticaram a decisão, exigindo limiares mais rígidos para que o gás natural seja considerado verde, e a Reuters deu destaque à intenção do governo austríaco de abrir um processo legal contra a nuclear ser considerada sustentável.
A decisão e as vozes contrárias ocuparam as principais mídias da Europa e dos EUA, como Bloomberg, AP, Reuters, Deutsche Welle, BBC, EuroActive, Wall Street Journal, CNN, New York Times e a edição europeia do Político.
Em tempo: China e Argentina fecharam um acordo de US$ 8 bilhões para a construção da terceira das usinas nucleares da planta de Atucha. O presidente Alberto Fernandez assinou o acordo na sua passagem por Beijing. Fernandez seguiu para Moscou para encontro com Putin. A notícia é da Reuters.
Fonte: ClimaInfo
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