Reino Unido registrou nesta segunda-feira a primeira morte causada pela nova variante. 70% dos casos analisados pelo Sistema de Vigilância Europeu são de pessoas que se contagiaram localmente
São cada vez mais numerosos os dados que indicam que a nova variante ômicron está se propagando em grande velocidade pelos países europeus. Um ritmo que supera a capacidade de detecção em tempo real dos sistemas de vigilância, já que os casos devem ser confirmados por sequenciação genética —um processo que, por sua complexidade, pode levar vários dias. Os especialistas consultados consideram que o mais previsível durante as próximas semanas é “um crescimento substancial das detecções da ômicron, que já começa a ser percebido, até que a nova variante substitua a delta, algo que poderia ocorrer em cerca de três semanas”, explica Federico García, chefe de Microbiologia do Hospital San Cecilio (Granada), um centro de referência para a Andaluzia oriental.
Na manhã desta segunda-feira, o Reino Unido alertou que a nova variante se propaga “num ritmo extraordinário” e já responde por 40% dos casos detectados em Londres. O país registrou nesta manhã a primeira morte causada pela ômicron no mundo (de uma pessoa cuja identidade, gênero ou idade não foram revelados). Um aumento que também ocorre no continente e sobre o qual alertou o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) em seu relatório diário sobre a ômicron. Segundo o documento, na Europa —o organismo reúne dados dos países da União Europeia (UE), Islândia, Noruega e Liechtenstein— foram confirmados até o meio-dia desta segunda-feira um total de 1.686 casos.
São 920 a mais do que ontem, embora a maioria dos novos casos se deva a uma mudança na contabilização da Noruega. Até agora, este país seguia os mesmos critérios dos demais: considerar como “confirmados” somente os casos com sequenciação genética e “prováveis” aqueles com um teste de PCR que tenha levantado suspeita sobre a ômicron —alguns exames de PCR podem antecipar o resultado com bastante confiabilidade, segundo a análise de determinadas partes do vírus— relativa aos contatos estreitos de um caso confirmado ou provável. A partir de agora, a Noruega considera como “confirmados” tanto os casos do primeiro como os do segundo grupo
As diferenças entre países são ainda mais notáveis. Alguns dos menores, como a Dinamarca, estão entre os que respondem por mais confirmações (195), o que leva o ECDC e os especialistas a suspeitar que esses casos ainda são provisórios e estariam mais ligados à capacidade de sequenciamento de cada país do que à circulação real da ômicron entre seus cidadãos.
O ECDC destaca, nesse sentido, que “embora os casos [da nova variante] comunicados no início tenham sido relacionados com viagens, um número crescente deles são agora contágios ocorridos nos países europeus”. Os resultados preliminares das análises do Sistema Europeu de Vigilância (TESS na sigla em inglês, uma rede integrada de informação epidemiológica) mostram que apenas 13% dos casos confirmados estão agora relacionados com viagens, ao passo que 70% dos contágios ocorreram localmente (o relatório não especifica a origem dos demais contágios).
No entanto, como costuma ocorrer, esta última porcentagem é afetada por certo viés: como estão sendo investigados os surtos causados pela variante ômicron, sua presença tende a ganhar maior peso. Apesar disso, o ECDC considera que esses dados “indicam que a transmissão comunitária [da variante ômicron] já pode estar em marcha nos países europeus sem que tenha sido detectada” em toda sua magnitude.
Jordi Vila, chefe do serviço de Microbiologia do Hospital Clínic (Barcelona), acredita que a progressiva implantação da ômicron na Espanha é o cenário “mais provável” conforme os dados que vão surgindo. Ainda assim, ele informa que até o momento não foi detectado um aumento importante de casos nos testes realizados por seu centro de saúde.
Esses dados convencem cada vez mais especialistas de que a primeira das três grandes perguntas que acompanham a detecção de toda nova variante —se é mais contagiosa, mais virulenta e escapa da proteção oferecida pelas vacinas e pela infecção natural— já tem resposta e é afirmativa.
Sobre a segunda pergunta, ao contrário, os primeiros dados que vão sendo conhecidos, embora muito preliminares, apontam para um ligeiro otimismo. Foi o que afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos e assessor médico do presidente Joe Biden. Segundo Fauci, os primeiros casos sugerem que a nova variante não causa quadros mais graves que os da variante delta, e isso explica por que as taxas de hospitalização “não aumentaram”.
“Até agora, os sinais são um pouco animadores, mas devemos ter cuidado antes de concluir que [a ômicron] seja menos grave em comparação com a delta”, declarou Fauci.
O temor de especialistas e autoridades de saúde é que, se a variante ômicron for mesmo tão contagiosa —mesmo se provocar quadros clínicos mais leves que os da delta—, o volume de doentes em termos absolutos pode ser de tal magnitude que submeta os sistemas de saúde a uma enorme pressão.
Nesse sentido, o ECDC destaca que, “em todos os casos sobre os quais há informação disponível”, a infecção transcorreu de forma “suave ou assintomática” e não foram registradas mortes entre as pessoas infectadas pela nova variante. Entretanto, “esses dados devem ser analisados com precaução, já que o número de casos confirmados é muito reduzido para entender se as manifestações clínicas da variante ômicron diferem das outras anteriormente analisadas.”
O fator-chave nesse ponto será a terceira pergunta: a efetividade das vacinas disponíveis contra a ômicron. Os dados coletados, também preliminares, mostram uma notável queda da proteção frente à infecção, quase sempre leve ou assintomática, embora ainda não haja análises conclusivas que permitam afirmar que também diminuiu a proteção contra doença grave e morte. Alguns países, como o Reino Unido, aceleraram por esse motivo a administração de uma terceira dose em toda a população adulta.
Fonte: El País
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