Municípios que mais desmataram no bioma Amazônico registram Índice de Progresso Social (IPS) 21% menor que o índice nacional, mostra estudo conduzido pelo Imazon
Estudo publicado na noite desta segunda-feira (6) pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) mostra que o desmatamento é nocivo ao desenvolvimento social no bioma Amazônico. Ao avaliar o Índice de Progresso Social (IPS) dos 772 municípios da região, os pesquisadores do Imazon constataram que as 20 cidades com maiores taxas de desmatamento nos últimos três anos tiveram IPS médio 21% menor do que o índice brasileiro. A média de todos os municípios da região é 16% menor que a do país.
Concebido a partir do entendimento de que medidas de desenvolvimento baseadas apenas em indicadores econômicos são insuficientes, o IPS analisa exclusivamente variáveis socioambientais. Neste ano, o IPS da Amazônia Legal foi gerado a partir da análise de 45 indicadores de áreas como saneamento básico, saúde, moradia, segurança, educação, comunicação, direitos individuais e qualidade do meio ambiente.
Para o cálculo deste índice, uma nota de 0 a 100 é gerada, do pior para o melhor.
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Na média, os municípios amazônicos registraram IPS de 54,59. Entre os 20 municípios campeões no desmatamento, o IPS médio é ainda mais baixo: 52,38. A média nacional é 63,29.
Sete municípios da lista dos maiores desmatadores não conseguiram atingir 50 pontos no IPS, ficando nas 70 piores colocações entre todos os 772 municípios da Amazônia Legal. São eles: Portel (PA), Apuí (AM), Senador José Porfírio (PA), Novo Repartimento (PA), Uruará (PA), Anapu (PA) e Pacajá (PA). Este último figura na segunda pior colocação de toda a Amazônia, com índice de 44,34.
As duas cidades que lideraram o ranking do desmatamento medido pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (INPE), Altamira e São Félix do Xingu, ambos paraenses, tiveram IPS de 52,95 e 52,94, respectivamente. Os números também estão abaixo das médias da Amazônia Legal e do Brasil.
Além do desmatamento, na lista de municípios com piores índices também figuram aqueles fortemente associados ao garimpo ilegal e conflitos sociais, como Jacareacanga, Nova Ipixuna, Nova Conceição do Piriá e Pau D’Arco, todos no Pará.
Se a Amazônia fosse um país, seu IPS de 54,59 (média) se assemelharia ao de Camboja, que registrou índice de 54,52, aponta estudo.
Dos 772 municípios avaliados, apenas 15 (2% do total) registraram IPS um pouco acima da média nacional.
“O IPS atesta mais uma vez que o desmatamento só tem gerado pobreza, conflitos sociais e inibido o desenvolvimento econômico da Amazonia”, afirma Beto Veríssimo, co-fundador do Imazon e um dos líderes do estudo.
Situação da Amazônia tem piorado nos últimos anos
O trabalho divulgado nesta segunda-feira – o terceiro dos levantamentos de IPS conduzidos no Brasil pelo Imazon, após edições em 2014 e 2018 – também mostrou que o progresso social nos municípios da Amazônia tem piorado ao longo dos anos.
Dos 772 municípios amazônicos avaliados, quase metade (49%) teve redução no índice e outros 21% mantiveram-se estáveis em comparação à última edição do estudo. Na média, o IPS caiu de 54,64 em 2018 para 54,59 em 2021.
Preservação X desenvolvimento
O trabalho do Imazon contrapõe as falas de Jair Bolsonaro e seus ministros sobre desenvolvimento na região Amazônica. Ao longo de todo mandato, o presidente e autoridades têm tratado a questão econômica como adversária da preservação. Nos três primeiros anos da atual gestão, foram comuns as declarações afirmando que é necessário pensar no desenvolvimento econômico no bioma para depois preservá-lo.
Bolsonaro também costuma defender a legalização de atividades com alto impacto ambiental em grandes áreas de preservação, como a mineração em Terras Indígenas, e a realização de obras de grande risco à preservação, como o asfaltamento da BR-319, por exemplo, como propulsoras de desenvolvimento.
O estudo, no entanto, mostra uma realidade diferente. Em 2020, ano em que a Amazônia perdeu 10.851 km² de floresta, os estados do bioma contribuíram com apenas 9% do PIB nacional, enquanto geraram 52% das emissões de gases de efeito estufa no Brasil.
“As curvas de crescimento econômico e desmatamento estão dissociadas. No período de maior queda na taxa de desmatamento (dentre 2004 e 2012), e economia cresceu. E o contrário ocorreu nos últimos anos (2017 a 2021), com a economia em baixa e o desmatamento em alta”, diz trecho do documento. “O fim do desmatamento seria favorável para o meio ambiente, mas isso é apenas um dos motivos para atingi-lo. O desmatamento zero também poderia trazer enormes benefícios para a economia da região”.
Fonte: O Eco
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