Além de atender pacientes que apresentam transtornos ansiosos, profissionais do ambulatório especializado do Instituto de Psiquiatria do HC transformaram as redes sociais em espaço de orientação
Uma festa, uma simples caminhada, o primeiro dia de aula. Situações que tinham tudo para ser divertidas ou tranquilas tornam-se verdadeiros dramas quando a criança sente medo ou expectativas além do que pode suportar. No geral, as situações parecem maiores do que realmente são e esta conclusão pode levar o adulto responsável a minimizar os sentimentos da criança ou do adolescente. Mas afinal, como medir a ansiedade? Quando ela deixa de ser normal para se tornar uma condição psiquiátrica?
O assunto tem preocupado pais, responsáveis e professores, sobretudo com o retorno às aulas presenciais após um longo período de ensino remoto em virtude da pandemia. Entretanto, o agravamento da saúde mental de crianças e adolescentes é multifatorial e anterior à covid-19, refletindo em um custo para a sociedade, que amarga as consequências de um baixo investimento.
Um relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) identificou que apenas 2% dos orçamentos governamentais de saúde são alocados para gastos com saúde mental em todo o mundo. Mesmo antes da pandemia, um em cada sete meninos e meninas com idade entre 10 e 19 anos vivia com algum transtorno mental diagnosticado.
“Estão mais graves. Eu acho que reflete a questão da pandemia, porque os casos de ansiedade têm uma influência ambiental muito grande. A alteração da vivência cotidiana pode mudar muito a vida de uma criança, já que a preocupação excessiva – até com a contaminação – é um prato cheio para a vivência ansiosa”, afirma o médico psiquiatra Fernando Asbahr. Ele coordena o Programa de Transtornos de Ansiedade na Infância e Adolescência (Protaia), um dos ambulatórios especializados do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP em São Paulo.
Asbahr aponta que a ansiedade deve chamar a atenção dos pais e responsáveis quando se trata de medos desproporcionais para a idade. Ela é muito caracterizada pela antecipação e pela amplificação de problemas. Em crianças pequenas, é comum que ocorra a chamada ansiedade de separação, que é quando há resistência a mudanças de ambientes sem a presença da mãe. A adaptação escolar é um exemplo. À medida que a criança vai ficando mais velha, os medos vão mudando. As dificuldades estão mais associadas ao medo de ficar isolado: em seu próprio quarto, em um cômodo sozinho.
“Tem aquelas crianças que, apesar de estarem doidas para irem brincar na casa do amigo, acabam não indo por medo de que algo errado aconteça. É sempre uma antecipação; uma preocupação completamente desproporcional”, define.
Fonte: Jornal da USP
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