A morte de duas crianças sugadas por uma draga de garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, poderia ter sido evitada: em março, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ao governo federal a retirada dos invasores dessa área exatamente por conta do risco da atividade e da violência promovida contra as comunidades indígenas. Entretanto, para surpresa de ninguém, o governo Bolsonaro não vem cumprindo essa determinação: as ações de combate às ilegalidades ainda são pontuais e insuficientes para resolver o problema. “A omissão do Estado brasileiro tem tido consequências dramáticas para os Yanomamis com episódios terríveis de violência contra suas crianças, mas também de desestruturação da sua saúde e da sua cultura”, disse a’O Globo o procurador Alisson Marugal, do Ministério Público Federal de Roraima. “Essas comunidades caminham para a extinção”.
A falta de fiscalização pelo governo federal permitiu uma verdadeira explosão do garimpo na Terra Yanomami. Impulsionados pela valorização do ouro no mercado internacional, mais de 20 mil garimpeiros atuam na região, espalhando destruição ambiental e ataques contra indígenas em diversas aldeias. Em maio passado, um grupo chegou a atacar uma comunidade na margem do rio Uraricoera, o que também causou a morte de duas crianças, que se afogaram na água ao fugir dos criminosos.
“Desde 2019, relato as necessidades e pedimos socorro ao governo”, disse Júnior Yanomami, presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuana (CONDISI-YY), ao El País. “Agora está pior. Aumentou muito a desnutrição. Onde tem garimpo forte tem o problema da fome. E na pandemia aumentaram as invasões. Como eu vou explicar a fome dos Yanomami? Eles [os garimpeiros] sujam os rios, destroem a floresta, acabam com a caça. Nós nos alimentamos da natureza”, explica o indígena.
Em tempo: Na BBC Brasil, João Fellet contou as dificuldades enfrentadas por algumas comunidades ribeirinhas no rio Amazonas. Por causa do avanço do mar, a água do maior rio do mundo está ficando mais salgada no trecho próximo ao arquipélago do Bailique, no Amapá. A prefeitura de Macapá, que responde por essa área, decretou estado de emergência na semana passada por causa do impacto da salinização para a subsistência dos ribeirinhos, com a distribuição de cestas básicas e água potável. Pesquisadores apontam que o avanço da salinização pode estar associado ao aumento do nível do mar, processo precipitado pela mudança do clima.
Fonte: ClimaInfo
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