Entre as mudanças trazidas pela pandemia no dia a dia das pessoas, a imposição dos cuidados com a saúde esteve entre as principais. É nesse contexto que a quarentena e outras formas de isolamento social podem ser enquadradas. Em quase dois anos de mudanças, especialistas já enxergam os impactos no indivíduo de todas essas mudanças e já alertam para os impactos psicológicos de uma retomada ao “novo normal”.
“A pandemia trouxe uma situação de ameaça concreta com uma contaminação por um vírus, causando muita morte e sofrimento e uma série de incertezas de outras ordens”, afirma o psicólogo José Paulo Machado de Sousa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, lembrando dos impactos na vida financeira e até familiar trazidos pela pandemia. “Os transtornos de ansiedade vêm do funcionamento anormal da nossa reação a uma ameaça. Então, de fato, a pandemia agravou os quadros de ansiedade dos que já eram pacientes e ajudou no surgimento de novos casos de transtornos”, explica.
Apesar de encontrarem evidências do fardo emocional proporcionado pela pandemia, principalmente entre jovens, estudos também já classificaram seu impacto como heterogêneo. Em outras palavras, é difícil definir de forma generalizada o que o cenário pandêmico trouxe sobre a nossa saúde mental. “Os recursos subjetivos que cada um tem para lidar e entender as situações são muito variados”, explica a professora Ana Maria Loffredo, do Instituto de Psicologia da USP.
Por essa razão, é de se pensar como a população que mais sofreu com o isolamento social deve conseguir retomar as atividades presenciais. Esse cenário tende a se complicar quando lembramos que a parcela da população brasileira completamente imunizada ainda está longe da ideal e que variantes do coronavírus mais contagiosas, como a Delta, já são realidade. “Esse retorno também pode ter um caráter traumático se a gente não cuidar das condições dele. É um retorno que não tem chão firme ainda”, aponta Ana Maria.
“A gente vem de um contexto onde todo mundo já está lidando com grandes quantidades de estresse, que é agravado pela perspectiva de que isso nunca acabe. Para algumas pessoas, sem dúvida, isso vai piorar (quadros de ansiedade)”, completa Sousa.
Diante desse contexto, as autoridades ganham um papel importante de garantir a segurança da população. Ana Maria acrescenta indicando que elas também devem reconhecer a fragilidade emocional que esse período carrega: “Como nós vamos retomar essas atividades levando em conta e legitimando o medo das pessoas?”.
Por outro lado, ainda é preciso considerar os efeitos positivos que a retomada segura pode trazer. Nesse sentido, o professor Sousa lembra da relevância que o convívio social tem para o ser humano: “As redes de apoio formadas por parentes, amigos e parceiros de relacionamentos amorosos são muito importantes para promoção da saúde mental, essas redes estão voltando a funcionar junto com a retomada”.
Fonte: Jornal da USP
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