No dia 5 de setembro, comemoramos o Dia da Amazônia. Nas redes sociais, choveu manifestações, parabenizações, elogios e discursos preservacionistas. Mas a Amazônia para o Brasil é como o lixo: todos dizem que é preciso dar um tratamento adequado, mas quase ninguém põe a mão na massa.
Na prática, o que tem prevalecido é o discurso do “progresso” e “desenvolvimento” para a Amazônia, sem a preocupação com a destruição que as ações para se chegar a eles pode deixar à região.
Esse discurso é carregado de ignorância. É filho de um capitalismo baseado na ganância, e ignora a riqueza que a floresta carrega.
A biodiversidade (plantas e animais) e o minério sobre o qual essa imensa camada verde está assentada vale muito mais para a humanidade do que a retirada de madeira, destruição do solo com as atividades de garimpo e as queimadas para plantação de pasto.
A devastação de grandes áreas de floresta ano a no já consumiu 20% de toda a floresta da Amazônia. A Amazônia Legal, formada pelos estados do Norte e parte dos Estados do Mato Grosso e Maranhão, tem 5,015 milhões de quilômetros quadrados. Os 20% desmatados significam 1 milhão de quilômetros quadrados. Isso representa 80% do Estado do Pará, o segundo maior da região.
O Pará é um dos Estados da Amazônia com a maior área de floresta devastada. Essa devastação, ao contrário do discurso, não trouxe nem progresso e nem desenvolvimento.
E é justamente o Pará que concentra os municípios com maiores índices de miséria do país. O pior IDH (índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil está na ilha do Marajó, município de Melgaço. Mas o Estado tem outros três municípios entre os dez com os piores IDHs do país: Chaves, Bagre e Cachoeira do Piriá.
Aliás, os dez municípios com os piores IDHs no Brasil se concentram na Amazônia. Além dos quatro do Pará, há dois do Amazonas (Atalaia do Norte e Itamarati), dois do Maranhão (Fernando Falcão e Marajá do Sena), um de Roraima (Uiramutã) e um do Acre (Jordão).
Melgaço é um dos municípios onde mais se apreende madeira ilegal, assim como a região do Marajó, que concentra grandes bolsões de pobreza no Estado do Pará.
A exploração da floresta, como vem sendo realizada, não gera qualquer riqueza para a região, pelo contrário. E as promessas de vida melhor para a população tem se mostrado, ao longo dos anos, uma falácia de políticos que apoiam a exploração sem critérios.
No chamado período áureo da borracha, a cidade de Manaus viveu um apogeu, com as famílias mais abastadas vivendo nababescamente, às custas de milhares de vidas ceifadas no seio da floresta amazônica de migrantes que trabalhavam em condições análogas à escravidão.
Depois, o governo brasileiro criou a Zona Franca de Manaus, que atraiu milhares de pessoas do interior do Estado para a capital. Riqueza para uns, a Zona Franca também foi responsável pela expansão desordenada da cidade e a formação de bolsões de miséria nos bairros periféricos da capital do Amazonas. Hoje a cidade concentra mais da metade da população do Estado.
Mais recentemente, vendeu-se a ideia de que a construção de um gasoduto de Coari a Manaus traria “progresso” e “desenvolvimento” para os municípios por onde passariam os dutos. Nada ficou para a população e de quase nada serviu o gasoduto. A maior parte da população nunca foi beneficiada. Mas a obra serve para enriquecer empresas que exploram o gás natural, sem deixar quase nada para o Estado, que, em tese, é o dono do gás.
Agora, vende-se a ideia de que é preciso explorar a madeira, o minério, as terras indígenas. Para quem tem mais de 40 anos já viu esse filme mais de uma vez. Desde o regime militar a exploração da Amazônia só tem gerado pobreza.
Projetos isolados têm conseguido mudar a vida de comunidades, mas nada ou quase nada é feito por iniciativa do Poder Público.
Não basta lembrar da Amazônia no dia 5 de setembro. É preciso mudar a atitude sobre a região todos os dias e buscar caminhos para um desenvolvimento sem destruição da floresta. Esse é o grande desafio.
*Valmir Lima é jornalista, graduado pela Ufam (Universidade Federal do Amazonas); mestre em Sociedade e Cultura na Amazônia (Ufam), com pesquisa sobre rádios comunitárias no Amazonas. Atuou como professor em cursos de Jornalismo na Ufam e em instituições de ensino superior em Manaus. Trabalhou como repórter nos jornais A Crítica e Diário do Amazonas e como editor de opinião e política no Diário do Amazonas. Fundador do site AMAZONAS ATUAL.
Fonte: Amazonas Atual
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