No clima de ditaduras antigas, as Forças Armadas marcaram para hoje um desfile de tanques, lança-mísseis e outros veículos na Praça dos Três Poderes sob a desculpa de entregar ao presidente Jair Bolsonaro um convite simbólico para exercícios militares que serão feitos pelas três Armas. Os blindados começaram a chegar à capital no início da noite de ontem. Não há nenhuma data comemorativa em particular, mas também está marcada para hoje a votação na Câmara da PEC do voto impresso, uma das bandeiras de Bolsonaro e que enfrenta a oposição de 15 dos 24 partidos na Casa. (Estadão)
Classificando-se como ‘chefe supremo’ das Forças Armadas, Bolsonaro usou as redes sociais para convidar os presidentes de STF, STJ, TSE, TST, TCU e deputados e senadores para assistir com ele ao desfile. (Folha)
Aliado de Bolsonaro, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que o presidente negou a intenção de intimidar o Parlamento. “Encaro isso como uma trágica coincidência”, afirmou. “É bem verdade que essa operação acontece desde 1988 aqui em Goiás, então não é alguma coisa que foi inventada. Mas também nunca houve um desfile na Esplanada dos Ministérios, na frente Palácio do Planalto. Quero acreditar que este movimento já estava programado. Só não é usual. Não sendo usual, em um país que está polarizado, isso dá cabimento para que se especule algum tipo de pressão.” (Antagonista)
Eliane Cantanhêde: “A ordem para a Marinha desviar seus tanques e lançadores de mísseis para um desfile no centro da capital da República, esta terça-feira, horas antes da votação do voto impresso, partiu do Palácio do Planalto e do Ministério da Defesa — e, ao contrário da versão oficial, foi dada na sexta-feira passada. Foi uma ordem política, com relação de causa e efeito com a iminência da derrota de Bolsonaro no plenário da Câmara.” (Estadão)
Malu Gaspar: “O desfile de blindados pela Esplanada dos Ministérios foi exatamente o que Bolsonaro pediu ao então comandante do Exército, Edson Pujol, em março passado, no auge da crise que levou à demissão do ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, e dos três comandantes das Forças Armadas. Na época, Pujol se negou a atender Bolsonaro, assim como Azevedo e Silva.” (Globo)
Para o ex-ministro da Defesa Raul Jungmann, conta o Painel, o desfile é teatro promovido por Bolsonaro que demonstra mais fraqueza do que força. Para ele, além de amplificar a derrota do voto impresso, terá uma repercussão internacional desastrosa. E parlamentares de oposição pretendem fazer um ato de repúdio em frente ao Congresso na hora do desfile. (Folha)
O PSOL e a Rede Sustentabilidade recorreram ao STF contra o desfile, mas o ministro Dias Toffoli negou o pedido, afirmando que caberia ao STJ decidir. (G1)
Nas redes sociais, a comparação com os arroubos armamentistas da Coreia do Norte e da Venezuela dominou, com memes fazendo os piores trocadilhos com os nomes do ditador Kim Jong-un e de Bolsonaro. (Poder360)
Mas a comparação maior não tem graça nenhuma, como lembra Lauro Jardim. Em 23 de abril de 1984, o general Newton Cruz, comandante militar do Planalto, desfilou por Brasília montado num cavalo branco à frente de tanques e tropas. Dois dias depois o Congresso votaria a emenda Dante de Oliveira, que buscava restabelecer eleições diretas para presidente no Brasil. Antes da votação, João Figueiredo, último dos ditadores do regime de 1964, colocou a capital em Estado de Emergência. A emenda teve a maioria dos votos, mas não o suficiente para ser aprovada. (Globo)
Fonte: Canal Meio
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