Enquanto o governo brasileiro ainda se prende ao negacionismo climático, o país está ficando mais vulnerável aos efeitos negativos da mudança do clima – e isso pode atingir em cheio um dos pilares econômicos do país, o agronegócio. Os cenários de aquecimento projetados pelo IPCC em seu novo relatório mostram que o Brasil deve sofrer cada vez mais com eventos climáticos extremos, como estiagens nos Nordeste e Centro-Oeste e enchentes no Sudeste.
No Estadão, Emilio Sant’Anna sintetizou algumas das consequências projetadas para o Brasil. A seca no Centro-Oeste pode ganhar ainda mais força caso o desmatamento siga desenfreado na Amazônia, o que prejudicaria ainda mais as condições para precipitação na região. “O desmatamento na Amazônia e em outros biomas brasileiros contribuem para o aquecimento do planeta e não beneficiam o país, seu povo e sua economia formal”, disse Carolina Genin, do WRI Brasil.
Um exemplo dos prejuízos que o agro pode enfrentar com a intensificação da crise climática é a forte onda de frio que atingiu o centro-sul do Brasil no mês passado. De acordo com o Estadão, por conta do frio, a safrinha de milho deste ano deve cair de 110 milhões de toneladas para 80 milhões, uma redução de 27,3%. A produção de café também foi prejudicada pelas geadas, com queda de pouco mais de 10% no volume esperado da colheita (de 48 milhões para 43 milhões de sacas). O G1 elencou alguns desses impactos potenciais no Brasil e na América do Sul. O Jornal Hoje, na TV Globo, agregou ao debate dados da EMBRAPA sobre os prejuízos que a crise climática causará ao país.
Em entrevista à Deutsche Welle, Paulo Artaxo (USP) ressaltou que a região central do Brasil pode sofrer com um aumento de 5,5°C na temperatura média e queda de até 30% nas chuvas até o final do século. “Esse cenário vai fazer com que áreas onde hoje são produzidas soja e carne possam não ter mais condições de produzir competitivamente daqui a 10, 20, 30 anos”, disse Artaxo. A CNN Brasil também destacou essas projeções e o impacto potencial para a agricultura brasileira.
Outro ponto que deve afetar a economia brasileira é a questão das emissões de metano pela pecuária. O novo relatório do IPCC analisou com mais detalhes o impacto desse gás de efeito estufa, o 2º que mais afeta o clima terrestre, mas o mais potente em termos de aquecimento. Sozinho, o metano responde pelo acréscimo de quase 1oC na temperatura da Terra entre 2010 e 2019, em comparação com o período anterior a 1900. Uma das principais fontes de metano é a criação de gado, que libera esse gás em seus processos digestivos.
“O relatório chama a atenção para os benefícios imediatos de reduções significativas de metano, tanto do ponto de vista da concentração atmosférica, mas também os cobenefícios para a saúde humana e a melhoria da qualidade de ar”, disse à Reuters a cientista norte-americana Jane Lubchenco, que atua no escritório de política de ciência e tecnologia do governo dos EUA. Ana Carolina Amaral também abordou a questão do metano no blog Ambiência (Folha).
Fonte: ClimaInfo
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