Após aplicação de questionário, pesquisadores da FMRP seguiram avaliação e diagnosticaram 64 moradores contaminados em Jardinópolis
Por Giovanna Grepi
Para rastrear casos suspeitos de hanseníase e contribuir para o diagnóstico precoce da doença, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP desenvolveram um questionário que foi aplicado por agentes comunitários de saúde em Jardinópolis, cidade do interior de SP vizinha de Ribeirão Preto. Após análise das respostas e comprovação de diagnóstico, os cientistas descobriram uma possível endemia oculta naquele município.
O Questionário de Suspeição de Hanseníase reúne um conjunto de 14 questões simples e objetivas sobre os sinais e sintomas relacionados à doença, além de investigação sobre o histórico de hanseníase na família. Por exemplo, o entrevistado deve responder se sente dormência nas mãos ou nos pés, formigamentos, áreas adormecidas na pele, sensação de agulhadas, etc. A ferramenta foi criada pelo doutorando Fred Bernardes Filho junto com o professor Marco Andrey Cipriani Frade, ambos da FMRP, e está disponível gratuitamente mediante autorização neste link.
“O questionário provou ser importante para triagem de novos casos pelos agentes comunitários de saúde. Também funcionou como uma unidade consolidada, simples e econômica de educação em saúde, renovando a consciência dos sinais e sintomas da hanseníase na população e nos profissionais de saúde, podendo ser recomendada na rotina das ações de rastreamento e vigilância em outras cidades”, explica o médico Bernardes Filho.
“Os municípios só serão capazes de quebrar as cadeias de transmissão e demonstrar que controlaram a hanseníase por meio da detecção de casos através de profissionais qualificados e treinados para reconhecer todas as formas clínicas da hanseníase, especialmente apresentações leves, em conjunto com o adequado acompanhamento clínico e terapêutico dos pacientes.”
Após a aplicação do teste, os pesquisadores descobriram sinais de uma endemia, quando uma doença é comum em determinada região, no caso, na cidade de Jardinópolis. No geral, foram distribuídos 3.241 questionários e 32,5% dos entrevistados apresentaram um ou mais sinais e sintomas da hanseníase. Neste sentido, os pesquisadores investigaram e seguiram com a avaliação de 479 pessoas e diagnosticaram 64 moradores contaminados. Ou seja, o estudo apresentou uma taxa geral de detecção de novos casos de 13,4%.
Vale notar que os resultados indicam a endemia oculta em cidade de um Estado que é uma região não endêmica. “Esse também é um alerta para os formuladores de políticas e uma lição para a comunidade científica: os municípios só serão capazes de quebrar as cadeias de transmissão e demonstrar que controlaram a hanseníase por meio da detecção de casos através de profissionais qualificados e treinados para reconhecer todas as formas clínicas da hanseníase, especialmente apresentações leves, em conjunto com o adequado acompanhamento clínico e terapêutico dos pacientes”, revela Bernardes Filho.
Bernardes Filho é o primeiro autor do estudo Active search strategies, clinicoimmunobiological determinants and training for implementation research confirm hidden endemic leprosy in inner São Paulo, Brazil publicado pela revista Plos Neglected Tropical Diseases. O trabalho, coordenado pelo professor Frade, contou com a autoria dos pesquisadores Claudia Maria Lincoln Silva, Glauber Voltan, Marcel Nani Leite, Ana Laura Rossini Alves Rezende, Natália Aparecida de Paula e Norma Tiraboschi Foss, todos da FMRP, e Josafá Gonçalves, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O que é hanseníase
A hanseníase é causada por uma bactéria e provoca perda das funções sensitivas e motoras e lesão na pele e nos olhos. Entre os principais sintomas estão perda da sensibilidade para o calor, frio e dor, da força muscular e da visão, além de manchas e machucados na pele.
“O diagnóstico precoce é prejudicado pela falta de informação da população e dos agentes de saúde em relação aos primeiros sinais da doença. A consequência é a demora na busca por atendimento médico, que pode provocar lesões e perdas definitivas, como a cegueira e incapacidade física”, conta Bernardes Filho.
Por ser uma doença infecciosa, é transmitida através de gotículas de saliva eliminada quando falamos, tossimos ou espirramos. O tratamento leva à cura, interrompe a transmissão e previne agravamento, além de ser realizado com medicamentos fornecidos gratuitamente nas unidades de saúde.
Fonte: Jornal da USP
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