A Polícia Federal e o Ibama estão investigando a morte incomum de duas onças-pintadas e outros 17 animais – entre eles, urubus, um gavião carcará, um cachorro do mato, uma vaca, além de várias moscas, que não entraram na conta – no município de Corumbá, no Mato Grosso do Sul. Os animais foram encontrados pelo Instituto Reprocon (Reprodução Para Conservação), que monitora e estuda o comportamento e a reprodução da onça-pintada (Panthera onca) em área livre através de colares de radiotelemetria e GPS.
Conforme informações apuradas pelo ((o))eco, os pesquisadores do Reprocon receberam no dia 10 de maio um sinal de mortalidade emitido pelo colar de monitoramento de uma onça macho – carinhosamente apelidada de Sandro –, que vinha sendo acompanhada desde setembro do ano passado. Sinal de mortalidade é quando o GPS para no mesmo ponto por muitas e muitas horas, como se o animal estivesse simplesmente parado, sem conseguir se mover. Ao receber aquele alerta, os pesquisadores cogitaram duas hipóteses: a onça poderia estar bem e ter perdido a coleira e por isso o alerta de mortalidade ou, na pior das possibilidades, o animal poderia estar morto e não teria muito o que ser feito. Pela falta de recursos, contudo, a equipe só conseguiu se deslocar ao local para averiguar a real situação no último fim de semana. “O projeto é formado por pesquisadores e não temos patrocínio de empresas e pessoas, então, nós mesmos custeamos as ações, então não temos uma resposta tão rápida”, justifica Pedro Nacib Jorge Neto, veterinário do Instituto Reprocon.
Na saída de campo, os pesquisadores adentraram na área da mata e encontraram uma onça morta no meio da rota. “No caminho para chegar até o animal, nós sentimos um odor forte e encontramos um macho de aproximadamente 140 quilos, que inicialmente, como a carcaça já estava iniciando a decomposição e nós não tínhamos as fotos para identificar se era o animal do colar, nós acreditamos que poderia ser o Sandro”, explica Pedro.
Os pesquisadores tiraram fotos e fizeram o registro do local que o animal fora encontrado, atividade de praxe da equipe. Seguindo em direção ao colar, os pesquisadores se surpreenderam quando encontraram outra onça. Dessa vez, com a coleira – era Sandro. O animal estava morto a 600 metros do rio. “Nós vimos que eram duas onças, nós resgatamos o colar e voltamos. Ao chegar, nós alertamos os órgãos ambientais porque na maioria das vezes as mortes ocorrem de forma natural, mas eles que precisam avaliar isso e ver se precisa ser investigado ou não”, esclarece o veterinário.
Mais mortes, mesma provável causa
Como na ocasião os pesquisadores encontraram duas onças mortas muito próximas uma da outra e numa mesma região, a Polícia Federal solicitou que a equipe a acompanhasse até o local juntamente com dois peritos e dois fiscais do Ibama. Com a equipe da perícia formada, os pesquisadores da Reprocon seguiram o rastro deixado por Sandro antes de morrer.
Os fiscais pediram para a equipe apontar o último lugar onde o animal teria se alimentado e identificaram que esse local era bem próximo onde fora encontrada a primeira onça. “Na hora que chegamos na área de alimentação nós começamos a encontrar outros animais mortos, vários urubus, um gavião carcará e a carcaça de uma vaca. Quando os peritos chegaram para avaliar a carcaça da vaca, viram uma quantidade absurda de insetos mortos sob a carcaça. Só que esses insetos decompõem a carcaça e não deveriam estar mortos”, explica Pedro. “Isso deixou claro, até pela velocidade da morte – tinha, por exemplo, um urubu morto ao lado da vaca. A gente sabe que existe um agrotóxico de lavoura, que foi proibido no Brasil há alguns anos mas ainda é encontrado em outros países e trazido ilegalmente da Bolívia e do Paraguai”, alerta o veterinário. “É uma morte muito rápida, mas é claro que depende do tamanho do animal, então o urubu e o carcará são animais leves e com metabolismo rápido, então a morte ocorreu de forma rápida”, explica.
O Ibama autuou o proprietário da fazenda arrendada onde ocorreram os envenenamentos. A Polícia Federal abriu um inquérito para investigar as mortes.
Fonte: O Eco
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