A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) estima que a safra de grãos 2020/2021 do Amazonas deve render 75,3 mil sacas beneficiadas. Embora a estatal não informe a série histórica para 2020 e 2019 – quando o Estado ainda estava agregado na categoria “outros” –, sabe-se que houve uma disparada de 975,71% no confronto com os dados de 2018 (7.000 sacas beneficiadas) e uma escalada de 904% ante 2017 (7.500). Vale notar que a média nacional seguiu na direção contrária, no mesmo espaço de tempo.
A área total em produção, neste ano, é de 4.145 hectares, correspondendo a uma expansão de 722,75% no confronto com os números capturados em 2018 (503,8 hectares). Há ainda 477 hectares de área em formação, elevando a área total para a cultura cafeeira amazonense para 4.622 hectares. Os acréscimos são de 570,89% e de 703,96%, ante os respectivos dados de três anos atrás (71,1 e 574,9).
Outra boa notícia é que o incremento de produção veio acompanhado de maior produtividade, embora o ritmo tenha se mantido menor, nesse quesito. Segundo a Conab, o Estado deve registrar 18,2 sacas por hectare, 31,02% a mais do que em 2018 (13,89). Pelo calendário da estatal, a colheita amazonense de café já começou em abril e deve se estender até julho, com 18,8 mil sacas em cada mês.
Em contrapartida, após o recorde registrado no ano passado, a safra brasileira de café aparece com um quantitativo segui na direção contrária à registrada pelo Amazonas, já que a Conab espera uma queda de 18,51% na produção, com 48,81 milhões (2021) contra 59,90 (2018) milhões de sacas beneficiadas. Movimento semelhante se deu na área de produção (1,82 milhão de hectares) e na produtividade (25 sacas por hectare) – que ainda se mantém acima da marca do Estado.
A maior parte da safra do Amazonas é de café conilon, que responde por 59,36% do total (44,7 mil sacas beneficiadas), com área estimada 2.145 hectares e produtividade calculada em 20,8 sacas por hectare. O café arábica é responsável por 40,64% (30,6 mil sacas beneficiadas) da safra, com 2.000 hectares de área em produção e 15,3 sacas por hectare. Já a produção global do parque cafeeiro do Estado está projetada em 4,28 milhões de covas para este ano.
“Mercado demandante”
Para o presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, a elevação de três dígitos da safra amazonense de café se deve, sobretudo, a aportes tecnológicos na cadeia produtiva. O dirigente destaca ainda que a entrada do grupo Três Corações no Amazonas – que comprou a Café Manaus, há exatos três anos – ajudou. Ele explica que a existência de uma unidade fabril da “maior empresa de cafés do Brasil” representa perspectiva de comercialização do café produzido no Estado, com “geração de renda no campo”.
No entendimento do dirigente, a rota de expansão da cultura cafeeira no Amazonas não se encerrou com a entrada de um grande player do setor de beneficiamento do produto no mercado local. “Ainda há espaço para a continuidade do crescimento da cafeicultura no Amazonas, principalmente pelo mercado consumidor estadual ser demandante, e pelo fato de que as indústrias processadoras ainda estão adquirindo café, em grande quantidade, de outros Estados, para seu processamento”, justificou.
Muni Lourenço não soube precisar a quantidade de indústrias que beneficiam o café no Amazonas, mas salientou que a unidade local da Café Três Corações – situada na rodovia AM-010 (Manaus – Itacoatiara) é a maior, embora existam outras “de menor porte” que produzem marcas de café comercializadas no mercado local, sendo que uma delas está em Apuí. De acordo com o presidente da Faea, produção familiar predomina na cafeicultura amazonense e os principais municípios produtores são Apuí, Silves e Itacoatiara, além de Lábrea e Envira.
“Investimentos acertados”
Na mesma linha, o titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, concorda que o aumento exponencial na safra foi alavancado pela entrada da Três Corações no mercado local e lembra que o produtor rural quer também a garantia da compra de sua produção. “Quando você tem uma cadeia produtiva verticalizada com uma indústria que compra e paga um preço atrativo, a tendência natural é que os produtores se interessem em plantar o café”, asseverou.
Segundo o secretário estadual, o crescimento na produção se deve a “investimentos acertados” em tecnologia, realizados em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária). No entendimento de Petrúcio Magalhães Júnior, ainda é possível incrementar a produção de café do Amazonas, assim como sua produtividade, inclusive com possibilidades de integrar as vendas externas brasileiras.
“Entendo que temos o diferencial de produzir um café robusto e amazônico, com o selo da sustentabilidade. A tendência é que mais produtores rurais se interessem em entrar na atividade para produzir por aqui. Além da viabilidade econômica, existe um amplo mercado local e ainda um potencial para exportação. Inclusive, cabe destacar que essa cadeia produtiva está contemplada no Programa Agro Amazonas e no Plano Safra 2021/2022 do Governo do Estado”, afiançou.
“Divulgação individualizada”
Em sintonia, o ex-superintendente da Conab, administrador com especialização no agronegócio e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, aponta Rio Preto da Eva, Silves e Apuí como os principais municípios produtores e estima que a safra fica totalmente no Estado. O especialista concorda que a maior novidade para a cultura cafeeira do Amazonas, entre 2018 e 2021, foi a instalação da Três Corações, em Rio Preto da Eva e lembra que esta figura entre os projetos prioritários do Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas) e conta “com total apoio” da Embrapa local e de Rondônia.
“Ainda há um mercado local muito grande a ser explorado. Mas, quem sabe, algum café especial possa ser cultivado, agregando a marca Amazônia para ganhar o mercado de exportação. Confesso que esse número me impressionou. Acredito que a indústria instalada em Rio Preto da Eva está comprando a produção a bom preço e que isso está estimulando o resultado. Pelo que sinto no setor, a produção vai aumentar muito em nosso Estado. Também quero reconhecer o bom trabalho dos técnicos da Conab e parabenizar o deputado Capitão Alberto Neto [Republicanos-AM] por ter defendido, junto ao governo federal, a divulgação individualizada dos dados do Amazonas. Isso permite melhor acompanhamento”, concluiu.
Fonte: Jornal do Commercio – JCAM
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