O pecuarista mineiro Mauro Costa, que mora em Paragominas (PA), é um exemplo de como a bovinocultura de corte pode se expandir de forma sustentável, sem abrir novas áreas. Em cerca de 480 hectares, ele recria e engorda 2.700 animais. Dessa forma, a taxa de lotação média da propriedade é de 5,6 cabeças por hectare. Na região, o índice gira em torno de 0,8 cabeça por hectare.
O apreço do produtor pela sustentabilidade não é de hoje, e precisou de empenho para se consolidar. Filho e neto de pecuaristas, ele se instalou em Paragominas no começo da década de 1980. Foi perto dos anos 2000 que, analisando o contexto de se produzir em uma região da Amazônia Legal, decidiu mudar a forma de trabalho.
“Eu via que o normal para as pessoas era desmatar, usar a área, que logo entrava em degradação. Os solos são pobres, então a degradação é muito rápida. Dez, doze anos e fica em um estágio elevado. Em vez de conservar ou arrumar essas terras, as pessoas abriam outras”, diz.
Ciente do problema principal, Costa se dedicou a melhorar a fertilidade do solo, para aumentar os índices de produtividade e, consequentemente, poder colocar um volume maior de animais no mesmo espaço.
Isso seria determinante para a expansão, pois a propriedade de 4.356 hectares já tinha aberto 880 hectares e o restante continuaria com mata nativa. E o trabalho de melhoria fez tanto efeito que, hoje, apenas 484 hectares são usados na pecuária. No restante da área livre, ele começa a implementar a soja.
Como a sustentabilidade é um tripé ambiental, social e econômico, Costa não descuida do negócio. Para ele, não é só colocar mais animais no mesmo espaço, mas produzir mais carne por hectare. Dessa forma, além do pasto, ele também investiu em treinamento e capacitação dos funcionários, que são responsáveis por manejar o rebanho e extrair dele o melhor possível.
O pecuarista também é apaixonado pela fauna e, por isso, faz questão de tornar a propriedade quase um santuário. Além de manter 80% de mata nativa, ele também plantou bosques no meio das áreas abertas, pensando na biodiversidade. “Tem mogno africano, que é exótico, mas o grosso é de mata nativa. Árvores frutíferas para animais, para manter essa biodiversidade elevada”.
E muito disso o pecuarista fez sem o auxílio de técnicos. “Temos muito pouco conhecimento, estudos. Grande parte disso fiz com base na minha intuição, pela minha cabeça. Era algo que eu queria fazer para mudar”.
Pecuária sustentável
Mauro Costa acredita que a pecuária precisa virar a chave: a sustentabilidade não seria um caminho, mas o único caminho possível para continuar criando gado. Ele diz que a maior parte dos produtores agem como “exploradores” de recursos naturais, não se preocupando com o fato de terra e água, por exemplo, serem recursos finitos. Dessa forma, se não forem explorados com racionalidade, podem acabar.
“A pecuária só vai se sustentar e continuar se tiver fomentado o uso de tecnologia. É a tecnologia que vai salvar a pecuária e fazê-la dar lucro”, pontua Costa.
O pecuarista conta que, enquanto algumas áreas de Paragominas se degradam severamente em 10 anos, ele tem áreas de pasto com mais de 40 anos, e a cada ano elas produzem mais do que no ano anterior. Tenho áreas que nunca foram reformadas e crio de 7 a 8 cabeças nelas”.
Para Costa, os produtores precisam parar de se apoiar na valorização da terra e do gado para lucrar. “Existe um foco muito grande nisso, e a gente precisa mudar. Temos que ganhar dinheiro por hectare. A turma da soja é mais profissional nisso. Ninguém quer produzir 70 sacas em um ano e no seguinte produzir 40”.
É necessário investir
Migrar para uma pecuária intensiva demanda dinheiro, e Mauro Costa não nega isso. Porém, ele lembra que não se pode comparar o lucro das duas atividades. “A pecuária intensiva dá muito mais lucro do que a outra, mas demanda recursos. É uma atividade cara, e precisa de treinamento e capacitação para as pessoas, que é outra coisa em que somos muito fracos na pecuária”.
De acordo com o pecuarista, o produtor não precisa de incentivo do governo. O ideal é mudar a mentalidade e passar a investir pelo menos uma parte do lucro na intensificação da atividade. “Temos condições para tudo. Quem sabe o que tem que ser feito não é o governo, sou eu. Acredito no meu trabalho, naquilo que eu posso fazer. Tudo que fiz foi sem financiamento bancário”, pontua.
Agora também produtor de soja, Costa dá como exemplo essa cadeia. Em Paragominas, a oleaginosa ocupava 35 mil hectares há 12 anos. Hoje, são mais de 500 mil hectares. “E não precisou de incentivo público. O produtor de soja financia a produtividade. Ele pega [investimento equivalente a] 30 sacas para fazer o plantio. Ele sabe que se colher 50 sacas, vai ganhar 20, mas se colher 60, vai ganhar 30”.
E o pecuarista é taxativo: o crédito tem que ser para quem quer produzir dinheiro, com boas práticas. “Quem desmata ilegalmente tem que ser preso”, finaliza.
Fonte: Canal Rural
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