Mesmo com Bolsonaro sinalizando não pretender demitir Ricardo Salles, a situação do (ainda) ministro do meio ambiente é bastante delicada depois da Operação Akuanduba, que investiga suspeitas de corrupção e advocacia administrativa em favor de madeireiros.
Na Veja, o ex-delegado da Polícia Federal, Jorge Pontes, ressaltou as conexões dos crimes investigados pela Akuanduba com outra investigação da PF que também chegou ao nome de Salles: a Operação Handroanthus, que originou a notícia-crime apresentada contra o ministro no Supremo Tribunal Federal (STF) no mês passado. Naquela denúncia, o então superintendente da PF no Amazonas, Alexandre Saraiva, acusou Salles de obstruir as investigações e favorecer os interesses de madeireiros suspeitos de exploração ilegal de madeira na Amazônia. Para Pontes, a “correria” imposta por Salles para liberação da carga apreendida pela Handroanthus nas últimas semanas aconteceu exatamente para que essa madeira pudesse se beneficiar da portaria (suspensa pelo STF na 4ª feira) que permitia a exportação do produto sem comprovantes de origem legal – exatamente o ponto analisado pela Akuanduba.
Além do enrosco nacional, Salles também pode enfrentar problemas judiciais nos EUA. Como José Casado lembrou na Veja, o inquérito da Akuanduba nasceu da denúncia feita pela Embaixada dos EUA no Brasil relacionada a um carregamento de madeira brasileira irregular importado para o país. As autoridades norte-americanas estão investigando a participação de agentes públicos brasileiros na liberação da madeira ilegal – um dos alvos é o presidente afastado do Ibama, Eduardo Bim. No Estadão, André Borges mostrou como a flexibilização das regras para exportação de madeira, feita pela dupla Salles e Bim, favoreceu principalmente as gigantes do setor madeireiro – uma delas, a Tradelink Madeira, está no centro das investigações nos EUA e no Brasil.
Com a polícia em sua cola, Salles também deve enfrentar mais questionamentos na Justiça. A deputada Fernanda Melchionna (RS) requisitou ao STF o desengavetamento de um pedido de impeachment do ministro encaminhado por partidos de oposição em junho do ano passado. À época, a Procuradoria-Geral da República recomendou o arquivamento do pedido, contestando as denúncias feitas no documento. Segundo Lauro Jardim n’O Globo, a ideia da oposição agora é mostrar ao ministro Moraes que a PGR, sob comando do bolsonarista Augusto Aras, tinha conhecimento sobre as acusações contra Salles desde o ano passado, optando por ignorá-las.
Já no Valor, Daniela Chiaretti e César Felício explicaram de que maneira Salles ainda se mantém no governo, mesmo depois de tantos baques. O segredo é simples: eficiência e fidelidade política. Salles tem sido eficiente naquilo que o Palácio do Planalto quer – passar a boiada sobre o meio ambiente. O problema é que, agora, Salles pode ter se tornado tóxico demais mesmo para os padrões de Bolsonaro – e para as necessidades políticas do presidente.
Em tempo: A segue ganhando manchetes no exterior. O francês Le Monde e o norte-americano Wall Street Journal (com uma manchete exemplar) também repercutiram a operação da PF contra o ministro e as suspeitas de corrupção no ministério do meio ambiente.
Fonte: ClimaInfo
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