Os alertas de desmatamento na Amazônia em março foram os maiores já registrados para o mês desde o começo da série histórica, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 367 quilômetros quadrados no mês passado (36,7 mil hectares), de acordo com o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter).
Em nota, o Greenpeace Brasil alertou que este aumento de 12,5% na medições – em relação a março de 2020 – ocorreu mesmo com uma cobertura de nuvens superior, que pode ter dificultado a leitura dos radares do Deter. “Voltamos à era dos grandes desmatamentos e em meio a medidas que promovem o desmatamento na Amazônia e premiam os criminosos, o Deter de março é mais um motivo para que o governo Biden não assine um “cheque em branco” com o governo de Bolsonaro”, afirmou Cristiane Mazzetti, Gestora Ambiental do Greenpeace.
O Greenpeace apontou que o governo Bolsonaro é responsável por um “aumento histórico do desmatamento com taxas anuais não observadas desde 2008, com 9% de aumento em 2020 comparado ao ano de 2019″. A organização ainda lembra a paralisação do Fundo Amazônia e corte de recursos para a proteção do meio ambiente, como verificado no Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) 2021. “Não será um rascunho desconexo de plano (Plano Operativo 2020-2023) para o controle do desmatamento, ou um acordo a portas fechadas com os Estados Unidos que reverterá toda a avalanche de destruição na Amazônia”, criticou o comunicado da entidade.
A entidade aponta ainda que grandes polígonos de desmatamento têm sido cada vez mais observados nas imagens de satélite, com áreas de até 5 mil hectares. “O que já é ruim pode piorar, com Ricardo Salles trabalhando contra o meio ambiente e o Congresso Nacional trabalhando para legalizar grilagem, flexibilizar o licenciamento ambiental e abrir terras indígenas para mineração, o desmatamento tende a continuar em alta”, enfatizou a dirigente do Greenpeace Brasil.
Na série histórica do Deter, que considera os dados das temporadas desde 2015, o mês de março com maior devastação verificada pelos satélites foi no período 2017/2018 – 356 quilômetros quadrados. Em março de 2020, foram 326,9 km².
O crescimento de março se deu após duas quedas sucessivas, em janeiro e fevereiro. No primeiro mês de 2021, inclusive, houve uma redução de 70% em relação ao mesmo período do ano passado. Os dados são do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e foram compilados pelo Ministério da Defesa. Foram 86 km² de alertas, contra 284 km² em 2020. Em 2018 e 2019, foram 183 km² e 136 km², respectivamente.
Ministro preocupado em liberar madeira apreendida
O registro de recorde de desmatamento em março, após dois meses de redução, coincide com a movimentação do ministro do meio Ambiente, Ricardo Salles, para liberar a madeira apreendida na operação com maior resultado realizada em dezembro pela Polícia Federal. Agentes federais aprenderam, no Pará, mais de 200 mil metros cúbicos, relativos a cerca de 65 mil árvores derrubadas.
A investigação começou após a Polícia Federal aprender uma balsa, em Parintins, no Amazonas, com três mil metros cúbicos de madeira. Parte da carga não estava declarada na guia florestal – documento obrigatório que comprova a origem legal das toras. Em seguida, os agentes federais realizaram sobrevoos e, com uso ainda de imagens de satélites, e encontraram mais dezenas de milhares de toras em áreas desmatadas do Pará: tudo foi apreendido.
Alguns madeireiros apresentaram autorizações de exploração florestal emitidas pela Secretaria de Meio Ambiente do Pará, mas não apareceu nenhum suposto dono para a maioria da carga apreendida. De acordo com a Polícia Federal, as investigações apontam para graves indícios de crimes ambientais.
Na semana passada, Salles foi ao local da operação da PF, na região do rio Arapiuns, e apontou irregularidades na operação policial. Responsável pela operação, o superintendente da Polícia Federal do Amazonas, Alexandre Saraiva, disse, em entrevista à Folha de S.Paulo, que era a primeira vez que via um ministro do Meio Ambiente se manifestar de maneira contrária a uma ação para proteger a floresta. “É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”, disse Saraiva.
Para o policial, as empresas responsáveis pela madeira nem deveriam ser chamadas de empresas. “São uma organização criminosa”, disse o delegado Saraiva, que ainda alfinetou Salles. “A Polícia Federal não vai passar boiada”.
Nesta quarta (7/4), Salles voltou ao Pará, teve reunião com madeireiros e disse a carga era legal. Salles disse que ouviu dos empresários que a madeira tinha sido derrubada dentro da lei e pediu pressa na análise da Polícia Federal. “E a preocupação que nós temos também diz respeito à velocidade com que essa resposta tem que ser dada. Algumas madeiras já estão apodrecendo, com brocas, com fungos”, afirmou o ministro, mostrando apoio aos empresários para a liberação da carga.
Fonte: Colabora
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