“Tomara que a sopa dos egos encontre a capacidade de ouvir, processar o que ouviu e construir um caminho para uma fala que conjugue pensamento científico com ação efetiva, construindo consensos mínimos sobre o melhor para as pessoas, antes de executar as obras”.
Augusto César Barreto Rocha
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Adoro Manaus. Por outro lado, odeio a quantidade de oportunidades perdidas em Manaus para melhorar a sua mobilidade urbana, pois há coisas que só governos podem fazer, por meio de políticas e ações públicas. Toda vez que se vê uma mega obra de infraestrutura em nossa cidade penso na dezena de obras de porte menor que deixaram de ser feitas. Afinal, alguns de nossos viadutos serviram apenas para transferir o engarrafamento para as esquinas seguintes.
Obras de infraestrutura são boas porque todos apoiam no macro, mas pouquíssimos concordam na hora de esmiuçar os projetos (parafraseando Philip Bump, do Washington Post, sobre o megaprojeto de infraestrutura do governo Biden). Tal qual nas doenças humanas, que são problemas para profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros ou fisioterapeutas, problemas de cidades são doenças para serem tratadas por Urbanistas, Arquitetos, Engenheiros ou Estatísticos. Entretanto, as questões da mobilidade de Manaus têm sido tratadas sem um diálogo franco e aberto destes profissionais, para esmiuçar os problemas e as melhores condutas para solução.
Em uma rara oportunidade, na próxima terça-feira, o debate “Connected Smart Cities” chegará à Manaus. Ao passar por todas as capitais do Brasil em 2021, este evento virtual junta pessoas que podem conceber alternativas para cidades mais inteligentes, integradas e dinâmicas. Do Iluminismo a experiência com a pandemia, temos demonstrações sobre a capacidade do pensamento científico coletivo para a construção de um mundo melhor. Neste contexto, a idade do conhecimento e do diálogo pode chegar nesta semana em Manaus. Quem sabe poderemos superar um Plano de Mobilidade não dialogado nem seguido, dando lugar a uma cidade mais democrática e mais inteligente. O momento não poderia ser mais apropriado: no início de uma nova administração municipal.
Há muitas oportunidades em Manaus para uma melhor mobilidade urbana. Minha proposta para o evento é colocar as pessoas e a beleza no centro da discussão. A partir desta abordagem, começar a reflexão sobre como minimizar os tempos de viagem e aumentar a velocidade média da cidade, com o uso das novas tecnologias, como sensores de IoT (Internet das Coisas, Internet of Things), uso intensivo de simuladores, administração automática de semáforos, melhor roteirização dos ônibus e veículos, adoção intensiva de bicicletas e calçadas nos diversos fluxos urbanos.
São tantas as intervenções de baixo custo que podem ser feitas, que deve ser desesperador para os verdadeiros executivos públicos ficarem olhando sem nada fazer, até encontrar uma ou duas obras para chamar de suas, ao longo de todo um mandato do político eleito. Este encontro de Manaus parece juntar as pessoas certas para começar esta busca. Tomara que a sopa dos egos encontre a capacidade de ouvir, processar o que ouviu e construir um caminho para uma fala que conjugue pensamento científico com ação efetiva, construindo consensos mínimos sobre o melhor para as pessoas, antes de executar as obras. Divulgar previamente as análises de Custo-Benefício das grandes intervenções poderá ser um bom começo. Será que conseguiremos? Fica o convite para um bom debate, com a esperança acesa para uma cidade melhor. Quem sabe a Páscoa nos trás este presente.
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