O Amazonas está conhecendo culturas agrícolas, há pouco tempo inimagináveis, e que estão se dando muito bem no solo da região. E melhor. Sem destruir a floresta. Uma delas é o café. Rondônia partiu na frente, desde a década de 1970, e hoje é o maior produtor de café da Amazônia, e é de lá que uma variedade de café, o conilon clonal, desenvolvido pela Embrapa, está sendo trazida para o Amazonas.
O paranaense Anderson Seibert de Oliveira veio para Manaus há 38 anos, junto com os pais. Moraram na cidade durante alguns anos, mas o sonho do pai de Anderson era viver num sítio, por isso ele comprou um em Rio Preto da Eva, para onde se mudaram em 1988. Naquela época Anderson estudava na então Escola Agrotécnica Federal de Manaus, antigo Colégio Agrícola, seguindo a tradição familiar de se tornar agricultor, como os parentes no Paraná, inclusive alguns desses parentes vieram para Rondônia onde se tornaram grandes produtores de soja.
“Me formei em engenharia ambiental, florestal e agrícola, e me especializei como consultor em agronegócio. Há uns cinco, seis anos um cliente de Rondônia me chamou para fazer uns trabalhos na área florestal e ambiental, manejo e exploração sustentável de madeira. Foi quando conheci a cultura do café consorciado com o cacau. Vi que se tratava de uma cultura interessante e trouxe a técnica para o Amazonas”, contou.
Anderson trouxe o café conilon clonal, que substitui o arábica, pois se adaptou bem à região e sua produção é maior numa mesma área plantada.
A produção do café clonal é diferente do cultivo do tradicional, cujas lavouras se originam de sementes. O clonal vem de muda geneticamente modificada da espécie conilon, que absorve melhor a adubação, garantindo maior rendimento e melhor qualidade ao grão.
Café no quintal
Tanto o arábica quanto o conilon são originários da África, o arábica, da Etiópia; e o conilon, do Congo e da Guiné, porém este tem se mostrado mais resistente e adaptado às condições climáticas da Amazônia, e com um resultado de produção mais efetivo quando comparado ao arábica.
Dados da Sepror (Secretaria de Produção Rural) mostram que até o ano passado a produção de café no Amazonas era de sete mil sacas/ano e o objetivo da secretaria é incentivar o agricultor familiar para que essa quantidade chegue a 360 mil sacas/ano já em 2022. Rondônia, atualmente, está colhendo mais de dois milhões de sacas/ano de café e é o quinto maior Estado produtor do país. O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo, e o segundo maior consumidor da bebida do planeta, ou seja, quem produz café pode ter a certeza que terá toda a sua produção vendida.
“O que eu trago de Rondônia aqui para Rio Preto é a muda clonal, ou seja, um pequeno galho, tipo uma roseira, de cujo galho cresce a planta. Depois de todo um processo para que essa muda clonal se desenvolva, quando ela atinge 30 cm, com uns quatro meses, já está no ponto para ser comercializada”, explicou.
Uma curiosidade. Quem quiser ter um pé de café no seu quintal, como decoração, a planta se adapta perfeitamente, mas o ideal, para quem desejar colher os frutos, é ter ao menos dois pés, de variedades diferentes, para que possa haver o cruzamento.
O café arábica demora de 2 a 2,5 anos para começar a frutificar, enquanto o conilon clonal, com 1 a 1,5 já está com frutos.
“A planta pode chegar a 2,5 metros de altura, aí deve-se fazer a poda. A safra do café é anual, mas a floração varia de acordo com a variedade plantada”, disse.
Produção longe da demanda
Outra dica dada por Anderson. Quem tiver um sítio com capacidade de plantar dois hectares de café clonal, um total de sete mil pés, terá a garantia de vender toda a produção, e por um bom preço.
“A 3 Corações, que tem uma fábrica em Manaus, só consegue suprir a sua demanda diária com o café vindo de Rondônia. A produção do Amazonas ainda precisa crescer bastante para atender a essa demanda”, lembrou.
Atualmente Anderson está desenvolvendo dois projetos em sua empresa de consultoria, Caipira Food, em Rio Preto da Eva. Trata-se do consórcio de café com açaí e açaí com cacau clonal. O plantio tanto de um consórcio quanto de outro também pode ser desenvolvido numa área de dois hectares.
“O interessante desse plantio consorciado é que você colhe durante o ano todo, e as três culturas são altamente rentáveis, com produtos aceitos no mundo todo”, contou.
Anderson também está criando a Cooperativa Mista Amazônia, voltada para os pequenos produtores.
“Aquele produtor que não tem dinheiro inicial para investir, receberá nossa assessoria na abertura do solo, terraplanagem, desmate, correção de solo com calcário, maquinário e só pagará essa assessoria com o resultado de sua produção”, informou.
Para completar, o consultor pretende trazer outras culturas clonais para o Estado: uva, maçã, pêssego, pêra, pequi de Goiás, goiaba Paluma, abacate, banana, laranja e limão.
Fonte: Jornal do Commercio – JCAM
Comentários