Por Vahan Agopyan, reitor da USP
Normalmente, celebramos os aniversários da USP em datas redondas, como em 2014, quando a Universidade completou 80 anos. Mas 2020 foi um ano especial e a USP e sua comunidade têm muito a comemorar aos 87 anos, completados neste 25 de janeiro de 2021.
Os últimos doze meses demonstraram cabalmente a pujança, a competência, a resiliência e a excelência desta Universidade. Todos nós, membros da comunidade, moradores do Estado de São Paulo e brasileiros, em geral, temos que nos orgulhar de conseguir manter uma instituição com este desempenho de qualidade, em um país em desenvolvimento, com todas as dificuldades financeiras, burocráticas, culturais e sociais que a USP enfrenta no seu dia a dia.
A pandemia que acometeu o País desde o fim de fevereiro de 2020 foi o maior desafio da nossa história. Nos obrigou a atuar essencialmente de maneira remota, a partir da segunda metade de março, à exceção de atividades de pesquisa que exigiam trabalhos presenciais. Um desafio e tanto, que exigiu dedicação e entrega de todos, docentes, alunos, funcionários.
A adequação dos docentes e alunos ao ensino a distância foi surpreendente.
Praticamente em duas semanas, as aulas foram retomadas, e mais de 90% das disciplinas voltaram a ser oferecidas. Devo destacar que a atuação dos alunos está sendo exemplar. Apesar de eventuais dificuldades logísticas, os alunos estão superando os obstáculos por meio de mútua cooperação, participação nas atividades de ensino extraclasses e colaboração como voluntários em diversas pesquisas desenvolvidas pela USP para combater a covid-19.
As atividades de extensão também registraram aumento, logicamente mais notáveis na área da Saúde.
Destacaram-se a disponibilização de leitos hospitalares para a instalação de Unidades de Terapia Intensivas (UTIs), o reforço nas atividades dos hospitais e centros de saúde, e ainda a oferta de equipamentos e recursos humanos para a realização de testes laboratoriais para detecção da doença. Para os testes, foram montados cinco centros com apoio de laboratórios de 18 unidades.
As atividades culturais agora atingem um público surpreendente maior, em função da intensa utilização das transmissões remotas, as lives, que multiplicaram as audiências. E as atividades administrativas continuam funcionando perfeitamente, graças a servidores que se mantêm em seus postos de trabalho, cercados por normas de segurança sanitária e apoiados por um grande número de colegas atuando em teletrabalho.
Na área da pesquisa, a USP, certamente, demonstrou o seu grande comprometimento com a sociedade. Mais de 250 projetos em que diferentes e numerosos grupos se adequaram para iniciar estudos sobre covid-19 e sars-cov-2 e estão colocando os resultados, em um prazo muito curto, à disposição da população. Trata-se de grupos multidisciplinares, interunidades, que trabalham com recursos financeiros limitados, alguns contando apenas com as doações obtidas por meio do programa USP Vida.
Alguns dos trabalhos são projetos diretamente relacionados à Saúde, como o sequenciamento do genoma do novo coronavírus, o isolamento e cultivo do vírus em laboratório, o teste pela saliva, a vacina por spray nasal, entre outros. Mas há também vários estudos de outras áreas para o combate da pandemia, como o desenvolvimento dos ventiladores pulmonares (já sendo utilizados em vários Estados), máscaras e protetores faciais (já em produção), almofadas anatômicas (já em produção industrial), o Observatório da Covid-19, equipamentos para a descontaminação de superfícies (alguns também em produção industrial), análises de big data e assim por diante.
Infelizmente, a pandemia não foi o nosso único desafio em 2020.
Após 30 anos, a autonomia financeira e administrativa, conquistada pelas universidades estaduais paulistas por meio do Decreto 29.598 de 2/2/1989, sofreu um duro ataque pelo Projeto de Lei 529/20, que tramitou na Assembleia Legislativa no segundo semestre, num pacote de medidas visando um ajuste fiscal. Graças à intensa movimentação de toda a comunidade, conseguimos retirar os artigos que atingiam as universidades.
De maneira similar, o Projeto de Lei 627/20, voltado para definir o orçamento do Estado para 2021, incluía uma cláusula que suprimia cerca de 30% do orçamento da Fapesp, a maior financiadora de pesquisas no País no momento. O Projeto de Lei infelizmente foi aprovado, mas a comunidade conseguiu que o Governador retornasse, por decreto, os recursos à Fundação.
Para encerrar, também nos deparamos com grandes dificuldades para a gestão da USP.
A Lei Complementar 173/2020, que inicialmente parecia se restringir ao congelamento de salários na Universidade, o que por si só já seria um problema grave, revelou-se bem mais abrangente: impede promoções e a correção dos valores de auxílios, congela a contagem de tempo para quinquênios e sexta-parte, bem como veda a realização de concursos para cargos públicos, além de outras disposições.
São dificuldades que até tornam menor o problema financeiro com que a Universidade convive desde 2014. Mas não atenuam as grandes incertezas em relação ao futuro próximo.
Já comentei que, após quase um século de culto ao conhecimento, estamos vivendo um período marcante de negacionismo e obscurantismo no Brasil e no mundo. Os detratores da Universidade se sentem liberados e estimulados por essa onda. Portanto, é necessário estarmos sempre atentos em sua defesa.
Por tudo isso, devemos comemorar com muito orgulho mais este aniversário.
A USP enfrentou e superou todos os obstáculos e digo, sem receio, que somos hoje uma universidade melhor e mais inserida na sociedade.
Viva a USP! Uma universidade pública, gratuita, de qualidade e com reputação internacional.
Fonte: Jornal da USP
Comentários