Surpreendente – e teoricamente alvissareira do ponto de vista da crise educacional que o Brasil atravessa – a escolha de um filósofo para ministro da Educação. Renato Janine Ribeiro é professor de Ética e Filosofia Política na Universidade de São Paulo, e teve presença destacada na Capes, o organismo federal de capacitação docente. Num país que trata com desdém a única ferramenta eficaz de transformação nacional, nomear um pensador para gerenciar Educação não deixa de ser emblemático. E, sobretudo, problemático na medida da dramaticidade de alguns problemas como a taxa de evasão escolar na Pátria Educadora, que foi 24,3% em 2012, enquanto no Chile 2,6%, no Uruguai 4,8% e na Argentina 6,2%. Somado a isso, os cortes orçamentários deste ano dão ao novo ministro a limitação funcional de seus propósitos de virar um jogo em que o Brasil ocupa o 55º lugar entre 65 países no ranking de habilidade para leitura, Matemática e Ciência, segundo o Programa Internacional de Avaliação de Alunos – Pisa.
Como promover a reviravolta necessária na qualificação dos professores, uma das causas objetivas da evasão escolar? Sim, os alunos abandonam as escolas entre outros motivos porque os professores são despreparados, desmotivados, se ausentam por vários motivos, entre eles por serem obrigados a dar aulas em vários lugares para sobreviver. Findam não dando aula que preste em lugar algum. Como mobilizar as famílias no desafio educacional, hoje entregue exclusivamente a escola quase sempre esfaceladas material e institucionalmente. Escolas que adotam metodologia do século XIX enquanto as redes sociais do smartphone serão inseridas no século XXI? Essa reviravolta exige transformar o Ensino Médio, hoje focado em Enem e em curso superior, na perspectiva da qualificação técnica e profissional como faz o Senai. E mais: o Ensino Fundamental precisa ser revisitado pela academia, para dar suporte, atualização e requalificação dos professores.
No país das Amazonas, esses desafios ganham contornos mais graves e específicos. Temos mais de um século de investigação nas instituições regionais de pesquisa, considerando Museu Botânico Emilio Goeldi, Inpa e Embrapa com o desafio de fundar, com toda essa bagagem de informação nos escaninhos dos inventários e coleções, uma nova indústria, a bioindústria do conhecimento. Algo similar ao Vale do Silício, cuja matéria prima gerou aquela experiência de êxitos construída na base da qualificação dos recursos humanos. Nossa matéria prima, além das madeiras, dos genomas e dos minérios, é a do conhecimento do processo evolutivo de milhões de anos na biodiversidade, diz o cientista Niro Higuchi. Entender esse processo, acompanhar e partilhar as operações ocorridas no bioma amazônico, é pensar Educação com olhar mais amplo, holístico, transdisciplinar desde o Ensino Fundamental. Só assim será possível extrair a chave de milhares de enigmas no cotidiano da floresta na perspectiva e nas demandas da humanidade. O projeto Genoma, do qual cientistas do Brasil participaram, é um exemplo singular desse desafio amazônico, que exige um monumental exército de cientistas. Educação, nesse contexto, exige identificar os novos paradigmas de pesquisa e garimpar/cultivar/promover gente talentosa, para produzir soluções, exportar conhecimento, a partir do portfólio bagagem de 20 mil anos de relacionamento entre o homem e a floresta. O vale da Biotecnologia, da bioengenharia genética, da biologia molecular para equacionar os enigmas que atormentam a espécie humana – perenizar a vida e o viço da juventude – é nossa maior vocação de negócios. E isso não é tarefa de um mandato, de um ministro ou de um individuo. É compromisso e responsabilidade de todos – governo, famílias, entidades, instituições, a mídia… – inadiável e emergencial para perseguir as utopias, aqui entendida no sentido proposto pelo filósofo Lamartine, como antecipação de uma nova realidade.
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