As pessoas mais ricas do mundo são as grandes responsáveis pela maioria dos impactos ambientais, como a perda de biodiversidade ou aqueles provocados pelo aquecimento global. Sem reformas que abordem a questão da afluência, não será possível alcançar condições ambientais mais seguras e sustentáveis, alertou artigo publicado no jornal ‘Nature Communications‘.
A atividade humana tem provocado tendências de grave degradação ambiental, que modificam os ecossistemas do planeta. As sociedades modernas falharam ao não implantarem soluções duradouras e efetivas para os problemas ambientais.
A degradação ambiental se tornou um risco existencial aos sistemas naturais e econômicos. E por trás dessa tendência insustentável, estariam a população mundial, o crescimento econômico e a afluência. No entanto, o artigo ressalta que ainda não havia sido claramente identificado o principal fator responsável pela exploração irracional dos recursos naturais.
Consumo excessivo
Os pesquisadores realizaram uma revisão de literatura científica, em busca de evidências sobre o fator mais determinante por trás de impactos ambientais e sociais. Utilizou-se como foco os estudos com abordagem holística, que associavam o consumo aos impactos da cadeia de produção e distribuição, independentemente de onde estes ocorriam.
Identificou-se na literatura evidências uma relação proporcional entre consumo e impactos ambientais e sociais. O consumo se mostrou o principal fator associado aos impactos em todo o mundo, superando em grande medida outras variáveis, como, por exemplo, demografia, idade ou moradia.
A proporcionalidade observada entre o consumo e os impactos diminui um pouco com o aumento da renda. Contudo, somente a intensidade do impacto do consumo registra queda, enquanto que os impactos absolutos sobem conforme cresce a renda e o consumo.
A maioria da literatura consultada aponta para dois elementos ligados aos impactos sociais e ambientais: as mudanças tecnológicas e o consumo per capita. A tecnologia tem o potencial de retardar os impactos. O consumo per capita, de acelerar.
Avaliações de tendências temporais revelam que o crescimento do consumo ultrapassou muito os efeitos positivos introduzidos por mudanças tecnológicas nas últimas décadas. Dessa forma, ganhos trazidos pela tecnologia foram reduzidos ou cancelados pelo aumento do consumo, com os impactos continuando a se agravar.
Super ricos, com super impactos
Para reverter a deterioração dos sistemas naturais e sociais, deve-se dissociar rapidamente a atividade econômica do impactos negativos. E mesmo que países ricos do Hemisfério Norte tenham apresentado melhoras nesse sentido, o artigo aponta que, no futuro próximo, eles não conseguirão cumprir essa meta.
A renda está fortemente ligada ao consumo. Este, por sua vez, está ligado a impactos negativos. As grandes desigualdades de renda provocam igualmente grandes desigualdades de impacto. Estima-se que os 10% mais ricos do mundo respondam por 25% a 43% do impacto ambiental. Os 10% mais pobres – uma parcela muitas vezes maior da população mundial – estariam ligados a somente cerca de 3% a 5% dos impactos.
Não se trata apenas de diferenciar entre países ricos e pobres. Inclui também o segmento mais rico dentro de cada país, aqueles indivíduos que concentram entre 1% e 10% da riqueza nacional. Eles fomentam o uso exploratório dos recursos naturais por meio do consumo excessivo, por seus investimentos e por liderar as normas de consumo do restante da população.
Soluções radicais
O artigo identificou duas linhas gerais de soluções de transformação das sociedades modernas. O primeiro grupo, chamado e reformista, se caracteriza por propostas que preservam as instituições dominantes do presente, como estados democráticos centralizados e economias de mercado.
Esse grupo contempla um conjunto bastante heterogêneo de propostas. Elas visam eliminar o crescimento da produção e do consumo, de modo a dissociar a economia dos impactos ambientais. Incluem medidas como impostos e tributações ecológicos, investimentos verdes, introdução de rendas mínimas e máximas, redução de jornadas de trabalho, entre outras.
O segundo grupo entende que as soluções implicarão em uma transformação mais profunda nas sociedades, que deixariam de ser capitalistas. Uma vertente considera os estados democráticos centralizados atuais como vetores importantes para essa transformação, enquanto que outra vertente considera formas diferentes de democracia participativa.
A proposta é promover a redução e modificação da economia, de forma que ela se torne estacionária, socialmente justa e em equilíbrio com os limites ecológicos. Com isso, diminuiriam os fluxos de energia e recursos através de uma economia, garantindo-se o bem-estar.
Entre a frigideira e o fogo
Seguindo-se a trajetória atual, o bem-estar humano e o equilíbrio natural ficarão comprometidos. Evitar esse cenário implicaria em eliminar a afluência e o consumo excessivo, que comandam a economia mundial e impulsionam os impactos ambientais e sociais.
As sociedade modernas se encontram entre a frigideira e o fogo. Por enquanto, a opção tem sido o fogo.
Fonte: Ciência e Clima
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