A Amazônia é um bioma surpreendente que ainda tem muito a revelar. Recentemente, o Mar Sem Fim mostrou que foram encontrados fósseis de uma espécie até então desconhecida de peixe-boi na região. Além das ilhas artificiais da Amazônia, comparadas em complexidade construtiva às pirâmides do Egito. Agora, cientistas anunciam a descoberta de fósseis de tartarugas gigantes pré-históricas, que teriam vivido durante a época geológica do Mioceno.
O tamanho e peso são comparados ao de um carro sedan. Elas podem ter atingido até quatro metros de comprimento, com peso bastante superior a uma tonelada. Denominada Stupendemys geographicus, a espécie foi comum na Amazônia entre 13 milhões e 7 milhões de anos atrás.
Tartaruga pré-histórica, do Acre até a Venezuela
A tartaruga gigante teria habitado uma área de pântanos no norte da América do Sul. Na região entre o que hoje é o estado brasileiro do Acre até o norte da Venezuela. Teria vivido em rios e lagos, antes de os rios Amazonas e Orinoco serem formados. É o que diz o estudo “The anatomy, paleobiology, and evolutionary relationships of the largest extinct side-necked turtle”. Ele acaba de ser publicado na revista científica Science Advances.
Os fósseis mais recentes foram encontrados no deserto de Tatacoa, na Colômbia, e na região de Urumaco, na Venezuela. “Documentamos o maior casco já relatado para qualquer tartaruga existente ou extinta, com comprimento de 2,40 metros e peso estimado de 1,145 tonelada”, informa o estudo. O fóssil encontrado seria de uma tartaruga com quase três metros no total.
Segundo os cientistas, o tamanho é quase 100 vezes maior ao do parente vivo mais próximo da gigante pré-histórica, a tartaruga do rio Amazonas Peltocephalus dumerilianus. Ou tartaruga-de-cabeça-grande-do-Amazonas, como também é conhecida. A gigante pré-histórica também tem o dobro do tamanho da maior tartaruga existente, a Dermochelys coriácea, ou tartaruga-de-couro.
Tartaruga gigante é a maior do gênero
Os fósseis recém-descobertos também foram comparados a outros da mesma espécie encontrados na década de 1970. O novo estudo revela ainda que a geographicus é a maior de todas as tartarugas do gênero Stupendemys. “Os novos espécimes aumentam muito o conhecimento da biologia e evolução dessa espécie icônica”, afirma a equipe de pesquisadores liderada por Edwin Cadena.
Ele é cientista do Grupo de Pesquisa em Paleontologia Neotropical Tradicional e Molecular (PaleoNeo) da Universidade de Rosário, de Bogotá, Colômbia. Entre as instituições que participaram dessa pesquisa também está a Universidade Federal Fluminense, do Rio de Janeiro.
Tartarugas machos gigantes possuíam chifres
O estudo mostra diferenças entre os machos e fêmeas da espécie. Os machos possuíam chifres em ambos os lados do casco. Chifres pontudos que serviam para combater os adversários, estimam os pesquisadores. Eles ressaltam que naquela época também viviam predadores tão gigantes ou maiores que as tartarugas pré-históricas. Entre os quais, os crocodilos, que compartilhavam o mesmo habitat. Em um dos fósseis, inclusive, os cientistas encontraram incrustado nele um dente de um crocodilo gigante.
“As interações de predação também poderiam estar envolvidas na evolução do tamanho corporal da Stupendemys geographicus, uma vez que compartilhavam seu habitat com crocodilos gigantes, que podiam atingir até 10 metros ou mais de comprimento. Há evidências diretas de interações entre Stupendemys geographicus e grandes crocodilos sul-americanos, na forma de marcas de mordida”, relata o estudo.
Pré-história é marcada por gigantismo
Os ossos da mandíbula inferior também indicam o tipo de alimentação das tartarugas pré-históricas. Elas comiam cobras, peixes, moluscos e frutas, predominantemente. Por isso, os pesquisadores acreditam que elas podem ter sido dispersoras para muitas espécies de plantas.
“O clima e a produtividade do ambiente, o tamanho do habitat e as interações predação-competição são alguns dos fatores geralmente considerados como gatilhos ou a favor do gigantismo. Nossa hipótese é que, no caso de Stupendemys geographicus, uma combinação de vários fatores favoreceu a evolução de seu grande tamanho.”
“Tudo o que sai do Mioceno da Amazônia é monstruosamente gigante”, disse, sobre o estudo, o paleontólogo Tito Aureliano, da Unicamp, ao site Aventuras na História. “Outros animais impressionantemente grandes já foram encontrados na mesma região, como um jacaré com mais de 12 metros e um antigo parente das capivaras que pesava até 700 quilos.”
A Stupendemys geographicus é a segunda maior espécie de tartaruga descoberta. Perde apenas para a tartaruga marinha da espécie Archelon, que teria vivido há 70 milhões de anos.
Fonte: Mar sem fim
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