Adotar esses parâmetros significa direcionar recursos de P&D&I para a produção de alimentos, de medicamentos e de cosméticos, pois nosso banco genético tem soluções surpreendentes para cada um desses setores. Vale lembrar que todos esses segmentos estão previstos nos programas prioritários de Bioeconomia, estipulados pelo governo federal através da Suframa, órgão gestor da contrapartida fiscal e da promoção de investimentos.
Nelson Azevedo
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Enfim se deu o debate entre governadores da Amazônia e os empresários de diversos setores e associações, signatários de um manifesto recente com críticas duras ao posicionamento ambiental do governo federal. Esse burburinho merece nossa atenção e acompanhamento crítico em seus desdobramentos. A pauta da conversa, ocorrida na semana passada, priorizou os impactos sociais e econômicos causados em escala global e de forma inédita pela pandemia da COVID-19 e, segundo o Documento firmado pelo setor privado. A pandemia significou que a consumação de riscos associados à quebra do equilíbrio ecossistêmico traz consequências devastadoras quando negligenciados”. Para respaldar o tamanho da preocupação, eles apelaram para o risco climático apontado pelo Fórum Econômico Mundial, ano após ano, desde 2012.
Sem xenofobia nem ingenuidade
Empresários e banqueiros se envolvem diretamente em questões extraordinárias quando muitos interesses e compromissos estão em jogo. E é oportuno que assim seja. Não faz sentido a xenofobia muito menos a ingenuidade. Não temos mais idade para acreditar em promessas desprovidas de amparo nas respectivas condutas. Também não perderemos tempo com análises superficiais da questão Amazônia. Para o começo de uma boa conversa, precisamos saber volume de recursos disponíveis, histórico e experiência dos parceiros, previsão de qualificação de recursos humanos e disponibilidade de inovação tecnológica.
Substituição de importações
Essas premissas foram assimiladas ao longo de minha trajetória, tanto na gestão da UTAM Universidade/Instituto de Tecnologia da Amazônia, hoje transformada em Escola Superior de Tecnologia, da UEA, como ainda na direção do CIEAM, Centro da Indústria do Estado do Amazonas, onde se consolidou minha convicção de que a saída para a Amazônia passa pela Ciência, Tecnologia e Inovação. Nos anos 91/92 criamos, no horário vespertino da UTAM, quando haviam classes ociosas, o primeiro curso de Informática em nível médio, na rede publica da Região Amazônica. Essas turmas foram quase integralmente aproveitadas no Polo Industrial de Manaus. Para todos nós que aqui labutamos, sempre foi essencial a qualificação das pessoas. Para isso, foi consolidada a implantação de nossa malha industrial, dado que à Zona Franca de Manaus competia – e mais do que nunca compete nos dias de hoje – a substituição de importações. Não para piratear tecnologias mas ajustá-las às nossas especificidades e demandas. Substituição de importações e evolução tecnológica, ou há outro caminho?
Protagonismo regional
É extremamente importante a presença e o apoio financeiro do setor bancário, como é fundamental convidar instituições sérias de ensino e pesquisa, tanto do Brasil como dos Centros avançados de Ciência e Inovação pelo mundo afora. Também é importante ver funcionar o Conselho da Amazônia com a presença de especialistas de origem acadêmica e do setor privado. Mas acima de tudo é importante que seja local o protagonismo e a gestão dos projetos. E que as soluções passem por nossas demandas, nossos direitos e pelo respeito ao nosso portfólio de serviços em favor da redução das desigualdades regionais.
Partilha de benefícios
Pedimos muita atenção para a interconexão entre duas cadeias e o fomento de ambas: a cadeia do conhecimento de olho na cadeia produtiva e no mercado. Não precisamos da reinventar a roda. As regras e os negócios do capitalismo são claros. Negócio bom é negócio bom para todos pontos. De que adianta um segmento lucrar com a acumulação da riqueza e anular a formação de consumidores para dar sequência ao mercado e circulação da economia?
Por isso, a partilha dos benefícios para a exploração dos ativos da diversidade biológica da sua Amazônia está prevista em lei, e deve estar no radar de quem aqui investe. Do contrário, todo o lucro, como se dá com o programa ZFM, é direcionado para o custeio da máquina pública, ou para sustentar despesas ou interesse de outras regiões.
Novas matrizes econômicas
Temos uma chance única de redirecionamento da cadeia global de suprimentos com a crise sanitária asiática e seus efeitos diplomáticos desastrosos. Empresas como a Apple, entre outras, que já estão deixando o parque industrial chinês, precisam ser atraídas para a Amazônia. O exemplo do polo industrial de Manaus é o melhor exemplo para demonstrar que o melhor jeito de conservar um bem natural é atribuir-lhe uma finalidade econômica. Portanto “salvar” a Amazônia é, sobretudo, assegurar formatos sustentáveis de novas matrizes económicas, tanto para fortalecer a economia básica da Zona Franca de Manaus, como para aproveitar nossas vocações naturais de negócios.
Segurança alimentar
Na lógica da cadeia produtiva e do conhecimento, uma das atividades, já em curso, com produção de itens essenciais para a segurança alimentar, é a piscicultura, e a fruticultura a ela relacionada. A razão é simples. A cadeia produtiva dos peixes em cativeiro, aqui na floresta, precisa de uma indústria de fruticultura, cujos resíduos podem ser aproveitados para uma ração de alto valor proteicos e de primeira qualidade. Não podemos esquecer que a clássica delícia dos nossos peixes é consequência das rações naturais que eles consomem baseada quase que integralmente em frutas naturais dos lagos e paranás da pesca artesanal.
Diapasão da sustentabilidade
O nome disso é Bioeconomia de resultados. Essa lógica de oportunidades e de produção de riquezas – no diapasão da sustentabilidade – permeia as empresas instaladas em Manaus. Por isso, tanto elas como aquelas que aqui desejarem se instalar, e tem recursos de pesquisa e inovação para aplicar na região, precisam estar diretamente comprometidas com os parâmetros socioambientais amazônicos. Um desses parâmetros é direcionar seus recursos de P&D&I para a produção de alimentos, de medicamentos e de cosméticos, pois nosso banco genético tem soluções surpreendentes para cada um desses setores. Vale lembrar que todos esses segmentos estão previstos nos programas prioritários de Bioeconomia, estipulados pelo governo federal através da Suframa, órgão gestor da contrapartida fiscal e da promoção de investimentos. Queremos, apenas, ser ouvidos, e precisamos de parcerias sólidas. Temos certeza que essa integração fará bem para a Amazônia e um bem maior ainda para economia e para o tecido social do país.
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