Alfredo Lopes , 15 de maio de 2018
Em debate recente sobre os embaraços do presente e desafios do futuro, o empresário Jaime Benchimol, CEO do Grupo Bemol-Fogás, elencou alguns equívocos das premissas das quais partimos para desenhar o futuro da Amazônia que queremos. Destacam-se algumas, inicialmente, as três mais gritantes. Premissa de que modelo industrial nos sustentará aos riscos da obsolescência tecnológica produzido pela convergência digital para o smartphone (TVs, aparelhos de som, tablets, notebooks, videogames, calculadora, câmera fotográfica). Premissa de que planejar é melhor que deixar a livre iniciativa atuar, desde que haja regras claras, pouca burocracia e forças competitivas de livre mercado. Premissa de que nossas soluções passam necessariamente por Brasília.
Debater esses equívocos implica em alinhar perspectivas de trabalho conjunto, otimizar custos, compartilhar estratégias e fazer de tantos ovos de que dispomos o omelete da prosperidade geral e que basta assegurar a sobrevivência do modelo ZFM e tudo, como num passe de mágica, se resolve.Além de equivocada, esta premissa que não incomoda o cidadão comum pode implicar numa catastrófica desindustrialização, portanto, na perda do motor de 85% de nossa economia.
A Universidade de Oxford, do Reino Unido, alertou recentemente que a tecnologia vai reduzir em até 63% os postos de trabalho no mundo e a Organização Internacional do Trabalho (OIT), organismo global de gestão do trabalho, já utiliza a expressão “fim do emprego” para ilustrar o tamanho da encrenca.É óbvio e determinante que a contrapartida fiscal da ZFM tem sido virtuosa na geração de empregos, embora em ritmo decrescente. O polo industrial, porém, não dispõe de um anteparo tecnológico próprio. Por isso, mesmo que fabricássemos todos os celulares do Brasil estaríamos na dependência da inteligência que o produz.
Chega de depender de uma caneta para assegurar o pão de cada dia. Sequer nos preocupamos em criar tecnologia e inovação para nossa maior riqueza, a biodiversidade e geodiversidade, do turismo de aventuras, de pesca, de prospecção cultural, da mística amazônica… E essa fragilidade está visível nos três polos de sustentação da ZFM, duas rodas, eletroeletrônicos e de informática. Qualquer abalo nos três vamos a nocaute. O polo de informática é o mais ameaçador pois a tecnologia transferiu para o smartphone o que antes era uma diversificada planta industrial.
Obviamente que precisamos do Polo Industrial de Manaus (PIM), mas é hora de priorizar as vocações de nossa economia, para diversificar, adensar e interiorizar o desenvolvimento.
Uma empresa que apresentou uma proposta de produção de genéricos a partir do banco genético local esperou 5 anos para Brasília aprovar seu PPB. Com esse tipo de entrave, fabricamos índices de desenvolvimento humano (IDHs) vexaminosos. Essa burocracia virou um poder em si mesma, criando sucedâneos de proliferação de tumores disfuncionais.
Temos que virar as costas para Brasília. Há muitíssimo que pode ser feito em âmbito estadual e municipal para melhorar o ambiente de negócios, tornar instituições mais ágeis e produtivas, educação, segurança etc. Brasília é, entre outros entraves, um cipoal tributário e formalista. No Amazonas, o maior e o mais preservado Estado da Federação, empreender significa criar barreiras ambientais, legislativas, regulatórias, culturais que desestimulam os investimentos privados ao mesmo tempo que o setor público se mostra incapaz e incompetente em realizar investimentos produtivos e viáveis. Há 17 anos o polo de biotecnologia não anda porque os ministérios não entram num acordo sobre quem vai gerir o Centro de Biotecnologia da Amazônia (CBA), e quem será capaz de lhe atribuir um CNPJ, sua certidão de nascimento contábil. E não adianta mais querer tirar coelho dessa cartola. Como não adianta trabalhar cinco meses por ano para sustentar a máquina pública, pesada e perdulária, sem contrapartida de qualidade. Está na hora de virar essa mesa. Com certeza.
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