Por Alfredo Lopes
Ainda está disponível no portal da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), para registro de um momento simbólico de renovação e das oportunidades adiadas de transformação, o “Estudo das Potencialidades Regionais”. A pesquisa foi iniciada em 1998 na gestão Mauro Costa e concluído em 2003, por Flávia Grosso, ambos destacados superintendentes da autarquia, comprometidos em encontrar saídas para nossa região, a um tempo rentável, próspera, socio-ambientalmente robusta e politicamente correta, como insistia o saudoso professor Samuel Benchimol.
Os recursos para este fim, usados legalmente para atividades econômicas geradoras de emprego e renda, para reduzir desigualdades regionais e interiorizar o desenvolvimento, foram minguando desde ali, quando os recursos da ZFM passaram a ser alvo da cobiça federal. Suframa e governo estadual lutavam em grupos opostos – algo sempre lastimável – mas concordavam em reter na região os tais recursos das taxas da Suframa e compartilhar com todos os estados da Amazônia Ocidental, além do Amapá, os benefícios que poderiam ser gerados. Não prosperaram. As empresas pagavam os serviços da Suframa e o governo FHC resolveu abocanhá-los com a conta única, contingenciando as verbas de desenvolvimento regional num patamar médio de confisco na ordem de 80% para outras destinações. Isso se agravou nos governos seguintes, onde o Amazonas foi muito visitado para os interessados nos seus bens e não no bem comum de seus cidadãos.
E quais eram essas potencialidades, cantadas em verso e prosa, numa apologia capenga, estéril e constrangedora? O Pará, um vizinho mais aguerrido, que tem projeto e comunhão da tribo na hora de trabalhar, virou um frisson de inovação econômica, com algumas lições de economia florestal, mineral e cosmética. Eis algumas de nossas potencialidades que, apesar de se passarem tantos anos, se comportam com a mesma robustez e obviedade de bem sucedidos investimentos, mas estão guardadas nos escaninhos da omissão.
Açaí, guaraná, amido de mandioca, palmito de pupunheira, cacau, piscicultura, cupuaçu, plantas rara uso medicinal ou cosmético, dendê, produtos madeireiros, plantio comercial de mandioca, entre outros, sem mencionar os serviços ambientais e o acervo mineral, com destaque para os recursos hídricos. O trabalho ficou a cargo do Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE), criado por Gilberto Mestrinho, em 1992, com apoio da FGV.
Os estudos não se detiveram na apologia, mas no detalhamento das vantagens de fazer nova matriz de economia, com definição de área de plantio, definição da produtividade, do mercado consumidor, a agroindústria locaI e os investimentos de implantação. Dessa investida pouca coisa sobrou, além do projeto Açaí de Codajás, outros com vitalidade efêmera, pois carecemos de visão empreendedora e de gestão de projetos.
Além disso, e dos recursos desviados para outros fins, sejamos sensatos para não dizer coerentes e decentes: faltou o apetite da diversificação, foi escassa a motivação da necessidade de empreender, de seguir criando parâmetros de desenvolvimento sem depredação. Manter a floresta intacta distribuindo emprego é um virtuosismo que se revelará estéril se não avançarmos na inovação, na combinação da manufatura com a poesia da bioeconomia racional, ambientalmente oportunista e onde a economia é partilhada com a ecologia, nessa infinidade das potencialidades amazônicas de uma brasilidade exemplar. Vamos encarar?
(*)Alfredo Lopes é ensaísta
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