“Não há mais como fechar fronteiras como também não temos mais desculpas para não formular parcerias inteligentes, baseadas em talentos nativos que nos ajudem a fazer das potencialidades a prosperidade geral de nossa gente empobrecida”
O professor e ex-governador do Amazonas, Arthur Cézar Ferreira Reis, um dos grandes estudiosos da cobiça internacional da Amazônia, prefaciou um livro raro, com informações preciosas que traduzem um debate “antigo e sempre belo”, como diria Santo Agostinho. Trata-se de ‘Olho grande na Amazônia’, escrito pelo amazonense Almirante Roberto Gama e Silva, que integrou a equipe ministerial do último governo militar do general João Batista de Figueiredo, no segmento de Informações e Segurança Nacional.
O amazonense era devotado aos estudos minerais estratégicos da região, e denunciava as tentativas do ‘Olho Grande…’ de pôr a mão nos minerais da Floresta, uma cobiça que se tinha radicalizado depois que o empresário Eliezer Batista levou adiante o Projeto Radam, o levantamento aerofotogramétrico da província mineral do Estado, nos anos 70.
Universidade do Juruá
Esse debate teve origem nos Saraus Amazônicos, conhecido por Universidade do Juruá, na Casa da Paraíba, que ficava no n.334, residência da família Baraúna Pinheiro. “Nas varandas daquela Casa se reuniam para confabulações frequentes alguns expoentes da cultura e erudição regional do Amazonas, em torno de uma garrafa de café, uma cesta com tucumãs ou uma tigela de coalhada fresca(*)”. Um time da pesada mobilizado por seo Petronio Augusto Pinheiro, que incluía Epaminondas Barahúna, José Alípio de Carvalho, José Ribamar Bentes Siqueira, Alfredo Jacaúna Pinheiro, Ambrósio Assayag, Cesare de Florio La Rocca, Guilherme Fregapanni, Orlando Garcia, Heitor Dourado e, vez por outra, José Lindoso, Roberto Gama e Silva, Severiano Mário Porto, Mário Antonio Susman e Rui Lins, para citar os mais assíduos.
Desenvolvimento inteligente?
O tema central do falatório era invariavelmente o mesmo: a Amazônia no contexto nacional e as oportunidades que se vislumbravam com o advento da Zona Franca de Manaus. Na pauta da prosa amazônica não poderiam faltar as especulações e as teses históricas para elucidar a derrocada dos seringais. O que fazer para evitar uma nova débâcle? Como assegurar a perenidade do modelo ZFM?
A competitividade assegurada em Lei e mais tarde petrificada, literalmente, nas disposições transitórias da Constituição Federal de 1988, sempre representou inquietação e incertezas pelas ameaças empunhadas por compatriotas que não conseguiram desenvolver o laço de pertencimento em relação à Amazônia. Além de tudo isso, um tema recorrente eram as riquezas minerais do Estado e qual a melhor forma de aproveitá-las.
Para recompor o saque
Certamente, ali nasceu, sob os ímpetos nacionalistas reinantes e pelos estudos de Gama e Silva, a ideia de resguardar a reserva de cobre e outros minerais, chamada Renca, a Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca), uma extensa reserva mineral, uma área maior que a Dinamarca, que o governo Michel Temer tentou entregar ao “Olho Gordo”, através de Decreto. Cosmopolitas por formação e nativos por opção e compromisso, aquela confraria cabocla determinou uma visão de mundo e as escolhas e alternativas assumidas desde então. Ali estavam homens públicos e empreendedores visionários que sonharam com um Amazonas próspero sob a ótica da racionalidade sustentável, não com o entreguismo para a cobiça estrangeira para recompor as contas públicas, saqueadas pela contravenção.
Parcerias inteligentes e inadiáveis
Um quinto dos princípios ativos do planeta habita por aqui e este é o desafio científico do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Menos de 10%, porém, foi levado aos laboratórios. Surto de nacionalismo de Getúlio Vargas, o Inpa ilustra o enfrentamento da poderosa Unesco que queria ocupar a Amazônia – sob a coordenação de Washington – escalada pelo “Olho Grande” para ocupar a região. Reconstrução dos escombros da II Guerra, utilização de seus espaços para refugiados sem pátria e insumos para mitigar a insegurança alimentar, medicinal e apropriação dos tesouros minerais, eram as desculpas para oficializar o saque.
Não há mais como fechar fronteiras como também não temos mais desculpas para não formular parcerias inteligentes, baseadas em talentos nativos que nos ajudem a fazer das potencialidades a prosperidade geral de nossa gente empobrecida.
(Com informações do Museu Multimídia www.memorialpetroniopinheiro.com.br.)
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