Escolhida por sobrevoos inconsequente em território amazônico, tendo como protagonistas um presidente do Brasil e um presidente de uma das maiores empreiteiras do mundo, ambos encarcerados pela justiça federal, as hidrelétricas da Amazônia são exemplos de governança autoritária e oportunista do interesse e do patrimônio público nacional. Os recursos naturais foram apropriados para benefícios particulares, corporativos e obscuros, provocando um rastro de destruição da esperança de populações tradicionais, e irreversível depredação socioambiental, com rescaldo de dor e morte no sentido amplo e dramático deste conceito.
Invocando segurança energética sem dizer para quê e para quem, atrelada à hipocrisia da integração geopolítica e energética nacional, a palhaçada revelou-se um fiasco da primeira ora na medida em que os promotores da grande jogada discutiam apenas quem se dará bem em termos exponenciais no jogo da partilha das respectivas fatias das obras do sinistro cívico.
Entre os danos do complexo hidrelétrico do Rio Madeira, as usinas de Jirau (3.750MW) e Santo Antônio (3.568MW) estão a redução substantiva da pesca artesanal tradicional, fonte de emprego, renda e nutrição dos povos amazônicos. Além disso, o desequilíbrio geofísico, que impactou fortemente o Ciclo das Águas, comprometendo as atividades econômicas agrosilvopastoris, o ciclo milenar da descida e subida das águas e suas nuances culturais, econômicas e de referência socioambiental.
Interesses inconfessos levaram a produção de expedientes jurídicos improvisados, derrubados por diversos expedientes do Ministério Público Federal e Estadual das unidades Federativas envolvidas mostram que este é o País dos penduricalhos jurídicos dos mais escabrosos. Desde as licitações irregulares, a formação de caixa dois, a distribuição de propinas com propósito de manipulação política e eleitoral. De 2004 a 2012, assistimos a um festival escandaloso de depredação dos cofres públicos.
Em ação coletiva, capitaneada pelo deputado amazonense Dermilson Chagas, mobilizando associações ribeirinhas, colônias e sindicato de pescadores, ainda hoje buscam indenização- assegurada pelo Superior Tribunal de Justiça- STJ, que reconheceu os direitos indenizatórios. São dezessete áreas, em apenas uma das ações reclamatórias que demonstraram danos irreversíveis dessa aventura de destruição e dor.
A revista científica International Fisheries Management and Ecology, em recente artigo denúncia, aponta uma queda de 39% no volume total do pescado desembarcado nas cidades das regiões. Isso inclui ainda desaparecimento de espécies como os bagres voadores, típicos da calha do Rio Madeira, entre outras espécies da ictio fauna regional. Estimasse que 2500 pescadores apenas no estado do Amazonas foram alcançados por essa iniciativa aloprada e criminosa.
A quem se destina essa epopeia do caos se não ao atendimento de interesses sombrios de grupos e seguimentos da economia marginal, envolvendo corporações financeiras, consórcios com empresas globais e grupamentos políticos marcados pela sordidez moral. Precisamos estar alertas para conhecer a história os compromissos e as condutas de quem se oferece a representar o interesse da cidadania. Ausentarmo-nos desde cuidado e omitirmo-nos dessa preocupação significará o castigo sem perdão de quem chora o leite político derramado. Esta terra tem dono, valor e dignidade de seus habitantes. Representar esse patrimônio natural e humano exige hombridade e brasilidade que devemos cobrar de quem se apresente a por ela lutar.
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