Celebrar o Amazonas e a Amazônia neste 5 de Setembro sugere um dia de reflexão e ação para decifrar essa esfinge que podemos ver devorada. Ou, quem sabe, transformada num patamar de inovação de que o mundo precisa para oferecer respostas novas e arrojadas para velhos imbróglios nacionais. Um deles é exatamente a incompetência clássica do país – e seu governo central – gerenciar esse monumental patrimônio. A quem competirá, prioritariamente, o alerta em torno deste desafio senão aqueles que aqui vivem e fazem desta região uma assustadora razão de viver?
Compreender o diferencial da economia e do bioma do Estado do Amazonas, integrá-lo nas várias Amazônias que se nos oferecem, desde a Amazônia dos recursos hídricos, dos Campos Gerais, das Cordilheiras que as hidratam, dos 20% da genética planetária, é programa de toda a vida e batente permanente. Aziz Ab’Saber dizia que a tarefa de inventariar a Amazônia é inesgotável.
Um dos grandes momentos da Conferência de Gestão da Amazônia, encerrada neste 31 de Agosto, foi reunir algumas das principais lideranças acadêmicas da região para debater compromissos e responsabilidades comuns com relação ao futuro da região. Como sair do debate sobre os atores da gestão deste bioma, suas estratégias e métricas esperadas para arregaçar as mangas e não fazer desta primeira reunião, de fundamental importância, mais uma reunião de propósitos e projetos de gaveta?
Compartilhar essa tarefa com quem está com a mão na massa da preparação acadêmica e profissional das novas gerações, combinar a integração dessas rotinas e alinhar algumas metodologias de trabalho, tendo em vista um futuro comum é, no mínimo, coerente e promissor, considerando a grandiosidade da empreitada.
Um exemplo de programação compartilhada é encarar a precificação dos serviços ambientais da Amazônia. Obviamente que o contexto estrutural de um desafio dessa envergadura é um contexto de Brasil, e sua interação com um mundo em transformação. Estamos vivenciando momentos de rupturas, quebra de paradigmas, um novo parto está a caminho. Os ‘papers’ produzidos pelos pesquisadores são prenúncio desta mudança. O convite para inaugurarmos um novo ciclo de desenvolvimento está colocado. Não significa abrir mão do modelo existente.
A ZFM é um acerto fiscal de redução das desigualdades regionais sem precedentes. Precificar seus serviços ambientais significa exigir a contrapartida da infraestrutura. Afinal, de cada R$10 bilhões que recolhemos aos cofres federais recebemos de volta menos de R$3 bilhões. Caso essa permuta constitucional fosse equilibrada, poderemos conferir competitividade ao polo industrial existente, com logística de transportes, comunicação de melhor qualidade e preço competitivo, e distribuição inteligente de energia, e contar com investimentos para usar 20% que a Lei permite no manejo inteligente do bioma florestal. Que lideranças devem conduzir esses processos, quais as estratégias mais eficazes de mobilização e execução e, sobretudo, que resultados queremos alcançar, traduzido em métricas e projeções. A lição, portanto, sabemos de cor, os gargalos delineados – incluindo a indiferença política que nos compete mudar – só nos resta empreender. Vida longa aos amazônidas e seus aguerridos parceiros e parceiras dessa utopia que devemos e podemos antecipar.
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