Na celebração dos 41 anos da ZFM (Zona Franca de Manaus), numa entrevista ao vespertino Maskate, José Azevedo, o comendador José dos Santos Azevedo, que nos deixou recentemente, deixou clara sua visão de futuro. São profecias luso-amazônicas de quem enxergava além dos horizontes fluviais e florestais desta Amazônia ignota, prenhe de caminhos para um país que faz questão de mantê-la isolada, atitude de quem é incapaz de promover a gestão e prefere a saída da intocabilidade no sentido da mais constrangedora omissão. Azevedo denunciou desde sempre a insensatez do descaso e sempre defendeu a unidade para promover as saídas endógenas na direção de um novo modelo de desenvolvimento.
“É preciso avançar, sempre de mãos dadas”, repetiu ele, “na direção do interior e fazer da nossa biodiversidade e dos outros recursos, especialmente os minerais, a consolidação da economia e sua distribuição efetiva para nossa gente”. Para ele, ao seguirmos desmobilizados, continuamos correndo o risco de repetir o fracasso do Ciclo da Borracha com a desindustrialização do Polo Industrial de Manaus, o consequente esvaziamento dos demais elos da economia. Temos algumas saídas de curto prazo e a necessidade do planejamento para o rumo que queremos tomar.
Ele defendia a retomada do turismo de compras, como fazem outros países que devolvem no aeroporto os impostos aos turistas quando voltam para casa. “Perdemos competitividade para os importadores de outros Estados e principalmente para o contrabando que circula impunemente até entre as autoridades da Receita. Hoje, na Santa Ifigênia e na 25 de Março, na capital paulista, o contrabando se espalha até pelas calçadas, não recolhe um centavo nem contribui com a melhoria dos equipamentos púbicos. A não ser na China”.
Até 1990, o comércio de importados havia contribuído para lançar as bases financeiras e de nacionalização dos produtos da ZFM industrial, aquecendo a economia regional, atraindo investimentos de infraestrutura, a melhoria dos serviços e – o que é mais importante – permitir que o Brasil desembarcasse na Amazônia e começasse a amar e defender 2/3 de seu território. “Por que a Receita chegou, com a audácia de quem se acha acima da Constituição, acabou com a Zona de Livre Comércio que o Decreto 288/67 criou e a Constituição referendou?
Desde 1990, quando o governo Collor abriu a economia para o
mercado internacional, fomos relegados a essa condição de descaso federal. “Eles estão interessados nos nossos bens, não no nosso bem”, como dizia Padre Anchieta, há mais de 5 séculos.
O Panamá se consolidou como polo de comércio de importados e construiu uma sociedade de bem estar… civilizada, com os requintes que o progresso traz. Ironicamente é para lá e para Miami que a classe média de Manaus se desloca hoje para fazer suas compras e experimentar serviços de hotelaria de alto nível e baixo custo.
Estamos sentados sobre um imenso tesouro e não sabemos usar a chave para abrir o cofre. A chave é o conhecimento, a pesquisa, a inovação tecnológica e a qualificação de recursos humanos. E o tesouro é a biodiversidade, os princípios ativos da flora e da fauna para a produção de cosméticos, fármacos e alimentos. Sem falar nas riquezas minerais e nas reservas especificas de petróleo e gás. O interior, entretanto, está
abandonado. Os ribeirinhos fogem da penúria para inchar a
capital que não tem como atender com equipamentos públicos tantas demandas de saúde, moradia, educação e segurança. Com o esvaziamento, até a moeda política perdeu o valor.
Hoje a classe política só cuida da capital. Políticos originários do beiradão ou comprometido com os ribeirinhos são um produto em escassez. Azevedo repetia suas teses em todos os fóruns, agora cabe a nós meditar sobre o compromisso com sua recomendação visionária: “…é preciso avançar de mãos dadas pois o essencial é nos mantermos unidos!”
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