José Márcio Mendonça, mineiro de Guarani, um dos mais qualificados jornalista da chamada velha guarda, nos deixou esta madrugada por insuficiência respiratória. Vai-se um ‘brasilianista’ com 45 anos de foco em assuntos brasileiros de política e economia. Fica um legado de rigor e talento no trato da informação e, para nós da Amazônia, um lamento por sua partida. Aqui, contávamos com sua colaboração no desafio de mostrar ao Brasil o que que a Amazônia tem pra oferecer e o Amazonas para relatar na bem sucedida contrapartida fiscal de sua economia.
“O bom jornalista é aquele que busca se antecipar as mudanças, tratando a notícia na crueza de sua mensagem, seja lá qual for o veículo”, dizia ele, sem perceber que estava se traduzindo. Editor de política e de economia e do caderno da cultura do Jornal da Tarde, por 17 anos, foi também diretor geral e diretor de jornalismo da Rádio Eldorado em São Paulo e diretor de redação da sucursal dos jornais ‘O Estado de S. Paulo’ e ‘Jornal da Tarde’ em Brasília.
O sagrado exercício de informar perde um de seus pilares.
Era otimista com relação a descoberta da Amazônia pela opinião pública brasileira e pelos formadores de políticas públicas. Quando isso ocorrer, ele previu que o país estará diante de desafios absolutamente criativos, nessa procura emergencial de postos de trabalho. Não é apenas a indústria do ócio contemplativo que movimenta o turismo de espetáculos naturais, José Marcio se referia ao desenvolvimento da biotecnologia, ou na tecnologia da informação e da comunicação, com esse acervo monumental de floresta e genética, na busca de novos fármacos, da cosmética e da indústria nutracêutica, a partir da biodiversidade.
“Aqui, quem prestar atenção, vai descobrir as trilhas de uma nova que passa pelo fetiche humano de perenização da vida”, disse em entrevista à mídia local, publicada no Infomoney/Bloomberg, em agosto de 2016.
Com sua sensibilidade visionária, ele ajudou os próprios nativos a refletir e descobrir ‘novas’ atividades na chamada economia criativa, no desenvolvimento da biotecnologia, ou na tecnologia da informação e da comunicação para uma releitura da Amazônia, com esse acerto monumental de floresta e genética, a busca de novos fármacos, da cosmética e da Indústria nutracêutica, a partir da biodiversidade.
Se o Brasil prestar atenção, vai descobrir as trilhas de uma nova economia. Consumidor de ervas naturais da tradição indígena, vivenciou a biodiversidade amazônica onde afirmava existirem as respostas para muitos enigmas da humanidade. Por isso, recomendava um grande projeto o setor privado, a universidade e o poder público. “É inaceitável que o Brasil tenha menos de 1% de seus cientistas atuando na Amazônia, onde o mundo civilizado está de olho desde a descoberta da América”. Os países centrais já teriam posto milhares de cientistas e laboratórios para planejar e implantar um futuro mais saudável e mais próspero.
Para ele, o bombardeio constante contra a Zona Franca resulta em parte pelo distanciamento dos temas priorizados pela mídia e por ser vista, fora de seu próprio território, como uma parasita, que explora as outras regiões, tira-lhes emprego e empresas e tem incentivos inadmissíveis. E não é incentivo é contrapartida. O que há, de fato, é uma desinformação sobre os efeitos benéficos da Zona Franca para o pais, não apenas do ponto de vista econômico mas também e principalmente do ponto de vista socioambiental. Graças a esta economia diferenciada o Brasil resguarda seu patrimônio genético e o Sudeste tem água em seus reservatórios. Não fosse a ZFM o estrago seria incalculável. Quem sabe disso? A ZFM sempre perdeu a batalha da comunicação, seja por omissão de seus gestores, seja por falta de argumentos bem elaborados para se contrapor às críticas.
A opinião pública do Sul-Sudeste ignora os efeitos positivos da região. O grande desafio é começar a ganhar esta batalha, não só no Sul e no Sudeste, mas, se possível, envolvendo a mídia internacional, hoje muito sensível às questões da economia Sustentável. “O uso das mídias sociais hoje é essencial, os próprios meios tradicionais de comunicação não desprezam esses veículos hoje. São mais eficazes e mais baratos, assim como os produtos fabricados em Manaus. Esses produtos seriam mais baratos se o Brasil olhasse a região e lhe desse infraestrutura competitiva”.
Obrigado, José Marcio, sua presença carismática e envolvente na floresta fez-nos lembrar o pensador Gabriel Marcel sobre a radicalidade do sentimento amoroso: “Amar alguém é poder dizer-lhe: tu não morrerás”.
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