A Universidade de São Paulo, sob a batuta do professor Jacques Marcovitch, tematiza nesta semana mais uma vez o Amazonas, dentro do projeto: Pioneiros e Empreendedores do Brasil. Num curso para professores, o foco é a construção do século XXI, a partir da compreensão do trabalho desenvolvido pelo olhar visionário do pioneirismo que enxergou o Brasil em dimensões singulares para consolidar ações definitivas. O curso promove o diálogo entre as linhas conceituais e a prática em sala de aula – na retomada da trajetória de pioneiros brasileiros – para apontar possibilidades de reflexões e conexões entre pioneirismo e contemporaneidade. Tematizar a esfinge amazônica, carente de debate emergencial e muita investigação interdisciplinar – condição primeira de sua gestão e integração à brasilidade – torna a iniciativa extremamente oportuna e promissora.
Multiplicam-se ações para adensar e estreitar o relacionamento da academia com a Amazônia, sua história, possibilidades e promessas. Existem mais de 500 pesquisas em andamento sobre temas amazônicos apenas na USP que se somam a centenas de expedições pedagógicas e científicas à região levadas a efeito por instituições brasileiras todos os anos. USP e UEA, a Universidade do Estado do Amazonas, estreitam colaboração com este fim e muitos frutos começam a brotar. É emblemático recordar que o Instituto Smithsonian dos Estados Unidos e o Museu Botânico de Kew Gardens, do Reino Unido, têm um acervo de informações sobre a Amazônia que supera o acervo de todas as instituições locais reunidas. Eles entenderam, há séculos, a importância de pesquisar a Hileia. No curso vamos retomar a Mostra: os Pioneiros do Amazonas que destacou, em 2013, Samuel Benchimol, a dialética entre o saber e o fazer, transformado em tomo de uma coleção de livros já publicados pelo projeto Pioneiros e Empreendedores da USP. Além dele, serão retomados Isaac Sabba, Cosme Ferreira, Petronio Pinheiro, Antonio Simões, Moysés Israel, Mario Guerreiro, Djalma Batista, J. G. Araújo, J.Leite e J.Amorim, Natan Xavier de Albuquerque, Phellipe Daou, os Loureiro, José Azevedo, Belmiro Vianez, Edgar Monteiro de Paula, Sergio Vergueiro, para citar alguns pilares do edifício empreendedor que ACA, Fieam, FAEA, Cieam e Fecomercio simbolizam.
E o que todos os pioneiros – reinventores de uma Amazônia que aguarda ser assumida pelo Brasil – têm em comum? Eis algumas características: compromisso inarredável com a família, essa instituição sagrada, que reúne a tradição e a revolução, referência e suporte de qualquer projeto ou antecipação dos cenários possíveis, as utopias. Eles trataram a Amazônia como ampliação amorosa do domuslatino, a ideia de lar, o locus da comunhão, onde as adversidades são desafio, motivação e criatividade para inovar e saltar para o futuro. Daí a liquidificação do látex, a refinaria de combustível na floresta, o motor de rabeta, o varejo certificado pela qualidade, o açaí com banana, o resgate do guaraná como item da nutracêutica, a indústria da juventude, os fertilizantes, o plantio e azeite da castanha. Eles não transferiram a outrem a construção dos próprios destinos. Tomaram-no nas próprias mãos, como rédeas da condução obstinada para construir uma nova ordem. Daí a prosperidade como um paradigma conquistado na articulação de talentos, no respeito ambiente humano e natural, onde as relações acontecem e se dinamizam na cumplicidade do saber, do crescer e na clareza do rumo a tomar. Eis o fio da meada que nos instiga a resgatar a memória para alumiar as trilhas da compreensão e integração da Amazônia, os caminhos da sustentabilidade de sua gestão, sua inserção nacional e continental num patamar novo e coerente de civilização tropical.
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