Foto: Bruno Zanardo
Alfredo MR Lopes é jornalista e escritor
Com apoio de organizações estrangeiras, em anticlímax Donald Trump, e mobilizadas para reafirmar o Acordo do Clima, desembarcou em Manaus o climatologista Carlos Nobre, interessado em coletar subsídios para seus argumentos acadêmicos de defesa da economia de baixo carbono.
Aqui a economia local caminha afinada com a ecologia. O nobre cientista é persona non grata no ambiente econômico adubado “pela pata do boi”, ou por monoculturas implantadas onde antes havia floresta. Em recente artigo no Valor, ele mencionou mais de 20 bilhões de árvores da Amazônia derrubadas pelo agronegócio – uma celebridade da balança comercial -, e atribuiu a este segmento 45% das emissões dos gases do efeito estufa no Brasil.
O fato, se confirmado, intimida as pretensões nacionais de protagonismo na questão climática global. Mapear oportunidades de baixo carbono nos soa como sinfonia de pássaros. Manejo florestal sustentável, piscicultura, nanobiotecnologia da biodiversidade, serviços ambientais estratégicos são alguns dos itens apetitosos do cardápio local da economia ambiental.
O alerta diz respeito à base econômica da Amazônia Ocidental, a Zona Franca de Manaus, uma economia de baixo carbono por excelência. O Polo Industrial de Manaus responde por 80% dos negócios direta ou indiretamente na região.
Desta riqueza, segundo a FEA/USP, mais de 54% é recolhida para os cofres federais. Isso representa mais da metade dos tributos federais de todo o Norte do Brasil. O confisco dessa riqueza, que a Constituição recomenda para redução das desigualdades regionais, inclui 80% dos recursos de P&D.
E é por isso que precisamos de aliados para exigir que essas verbas sejam aplicadas em projetos sustentáveis, justamente o que Nobre sugere: “Com cem produtos da biodiversidade econômica será possível gerar, em 10 anos, uma economia 5 vezes maior do que a atual”.
Não há novidades na proposta, embora seria revolucionário se o Brasil quiser integrar o cenário das grandes nações. Os produtos do mimetismo natural, desde as descobertas de Alfredo Wallace Russel e Charles Darwin, compõem o baú da vida com o tesouro da longevidade, portanto, de oportunidades de negócios. Os ingleses recriariam uma floresta amazônica nos quintais da rainha, o Museu Botânico de Kew Gardens, há mais de 200 anos, com mais de 150 mil espécies, climatizadas e protegida nos arredores londrinos.
O que fazer? O economista e especialista em desenvolvimento regional, Paulo Haddad, com a autoridade de quem reviu e atualizou as melhores propostas da prosperidade por este Brasil afora, criadas na companhia de Roberto Rodrigues, Eliezer Batista, Alysson Paulinelly, recomenda 10 arranjos produtivos para a BioAmazonas – piscicultura, fruticultura, nutracêuticos, fármacos, cosméticos… – e empinar, de imediato, uma economia integral e alternativa para o Estado, o maior e mais preservado do país.
A União, entretanto, por falta de uma política industrial coerente, e para atender às pressões de grupos do Sudeste, tem em vista esvaziar os incentivos da ZFM, o amparo fiscal da base econômica, lembra Haddad. Ele integra a proposta da FIPE Amazônia, mais um acordo com a USP e agora com a UFMG, para ajudar na formulação deste bicardapio, e rever, entre outras estatísticas, o PIB amazônico, um valor que o Brasil nem imagina.
Aqui, há décadas, já estão atuando pesquisadores de peso como Paulo Artaxo, Niro Higuchi, Adalberto Val, Charles Clement, Adrian Pohlit, entre outros, empenhados em decifrar a esfinge amazônica a serviço do Brasil, antes que a arrogância e o descaso federal a devorem. O melhor jeito de tratar a Hileia, pois, inclui estudo participativo, interdisciplinar e fraterno, de olho nas populações tradicionais, nas etnias abandonadas por este Brasil à deriva.
O mundo desde sempre cobiça a Amazônia. Os fitoterápicos contra aids estão sendo produzidos na China à base de copaíba da Amazônia. As leis de proteção do país são uma piada no mundo biopirataria. Sem xenofobia, muito menos ingenuidade, que tal reagir e conjugar, com nobreza, o verbo descobrir, partilhar e inovar na primeira do plural?.
Publicado originalmente no site InforMoney, 13 jun 2017 02h37
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