Em uma jornada desafiadora até o coração da Amazônia, o arqueólogo britânico Mark Robinson e sua equipe internacional desenterraram evidências de práticas agrícolas avançadas de civilizações antigas. A expedição, realizada em Iténez, no noroeste da Bolívia, perto da fronteira com o Brasil, teve como objetivo investigar a misteriosa terra preta da Amazônia, conhecida por sua incrível fertilidade.
Após uma viagem aérea tensa até Versalles, a aldeia mais próxima, e uma árdua caminhada pela densa selva, a equipe de Robinson encontrou-se em meio a um solo escuro e rico, característico da terra preta. Diferente do solo fino e arenoso típico da região, a terra preta é intensamente fértil, enriquecida com matéria orgânica em decomposição e nutrientes vitais como nitrogênio, potássio e fósforo.
Este solo não é um depósito natural, mas sim o legado de povos indígenas que habitaram a região milênios atrás, desenvolvendo técnicas sustentáveis de manejo do solo que permitiram a prosperidade de assentamentos extensos na floresta tropical.
A importância dessa descoberta foi destacada pela recente redescoberta de uma “cidade-jardim” no vale de Upano, no Equador. Esse centro urbano de 2.000 anos, com suas praças, ruas e plataformas cerimoniais, sugere a existência de outras civilizações complexas na Amazônia, possivelmente sustentadas pela utilização da terra preta.
A pesquisa de Robinson e sua equipe traz à luz o potencial dessas antigas práticas agrícolas para inspirar soluções modernas em agricultura e gestão ambiental. O estudo da terra preta não apenas oferece insights sobre o passado próspero da Amazônia, mas também aponta caminhos para o futuro, na busca por técnicas agrícolas mais sustentáveis e eficazes contra as mudanças climáticas.
A Terra Preta da Amazônia: redescoberta de uma antiga sabedoria agrícola
Nas profundezas da Amazônia boliviana, em um local remoto chamado Versalles, o arqueólogo Mark Robinson e sua equipe descobriram mais do que apenas a exuberância da floresta tropical; eles encontraram um testemunho das antigas civilizações que moldaram essas terras muito antes da chegada dos europeus. A presença humana ancestral na Amazônia, longe de ser esporádica ou insignificante, revelou-se uma influência determinante no ecossistema da região, desafiando a noção de uma floresta virgem intocada.
Estudos recentes mostraram que árvores domesticadas por sociedades pré-colombianas são predominantes na Amazônia, sugerindo uma interação sofisticada e intencional com o ambiente. A terra preta, uma camada de solo escuro e extremamente fértil encontrada em toda a bacia amazônica, é um dos mais fascinantes legados dessas comunidades. Composta por uma rica mistura de materiais orgânicos e inorgânicos, essa terra é um testamento da engenhosidade indígena em agricultura e manejo do solo.
A descoberta, pela primeira vez notada por europeus nos anos 1870, sempre intrigou cientistas pela sua origem e função. Recentemente, uma equipe internacional de pesquisadores, incluindo Robinson, confirmou que a terra preta foi criada de forma intencional pelas civilizações indígenas, numa prática agrícola avançada que contribuiu para a sustentabilidade de grandes comunidades.
A produção da terra preta atingiu seu ápice há cerca de 2.000 anos, num período de expansão demográfica e formação de vastas redes de assentamentos. Entretanto, essas comunidades não se assemelhavam às grandes cidades descobertas em outras partes da Amazônia, como a “cidade-jardim” no Equador. A razão, segundo Robinson, pode estar na própria eficácia da terra preta, que permitia uma vida abundante sem a necessidade de grandes estruturas agrícolas ou hierarquias sociais complexas.
A chegada de Cristóvão Colombo nas Américas e a subsequente colonização europeia marcaram o início de uma era de declínio para essas civilizações. A “grande mortandade” resultante não apenas dizimou as populações indígenas, mas também alterou drasticamente o ecossistema amazônico. A redução significativa na produção da terra preta é um indicador das profundas mudanças que ocorreram.
A pesquisa sobre a terra preta da Amazônia não só lança luz sobre o passado complexo e interconectado da região, mas também oferece lições valiosas para o presente e futuro. As práticas de manejo do solo dessas antigas civilizações, baseadas em princípios de sustentabilidade e respeito ao meio ambiente, apresentam possíveis soluções para desafios contemporâneos, como a segurança alimentar e a mudança climática. Ao reconhecer e valorizar essa herança, podemos encontrar inspiração para construir um futuro mais sustentável.
Inovação antiga: Terra Preta e o futuro do sequestro de carbono
O legado dos antigos habitantes da Amazônia transcende o tempo, oferecendo soluções inovadoras para alguns dos desafios contemporâneos mais prementes. Entre essas soluções, a terra preta se destaca não apenas por sua riqueza em nutrientes, mas também por sua capacidade de atuar como um eficaz reservatório de carbono.
Mark Robinson, um arqueólogo com vasta experiência na região, destaca a diversidade na composição da terra preta, variando de acordo com os materiais empregados por diferentes povos ao longo da Amazônia. No entanto, a base desse solo — composta por restos alimentares, fezes e, crucialmente, carvão — revela uma técnica consistente de enriquecimento do solo que transcende as fronteiras locais.
A capacidade da terra preta de armazenar até 7,5 vezes mais carbono do que os solos vizinhos não é apenas um fenômeno intrigante para cientistas; representa uma oportunidade palpável na luta contra as mudanças climáticas. O biocarvão, ou “carvão preto”, é um ingrediente essencial na formação da terra preta, produzido a partir de material orgânico transformado em carbono quase puro sob condições de alta temperatura e baixo oxigênio. Este processo não só retém carbono por séculos, mas também emite menos CO2 do que métodos tradicionais de produção de carvão, oferecendo um caminho promissor para o sequestro de carbono
A aplicação moderna dessa antiga sabedoria já está em andamento, como demonstra a iniciativa da Carbon Gold. Fundada com inspiração nas práticas de produção de cacau dos Maias, a empresa produz biocarvão para uso agrícola, contribuindo tanto para a melhoria da qualidade do solo quanto para o combate às mudanças climáticas. Os benefícios do biocarvão vão além do sequestro de carbono, melhorando a estrutura do solo, aeração, capacidade de retenção de água e nutrientes, o que por sua vez sustenta um crescimento vegetal saudável.
Essa abordagem tem atraído uma variedade de clientes, desde produtores orgânicos e jardineiros a prestigiados clubes de futebol da primeira divisão inglesa e campos de golfe renomados, demonstrando a versatilidade e eficácia do biocarvão.
À medida que o mundo se volta para os trópicos, com previsões indicando que metade da população global residirá nessas regiões até 2050, a necessidade de práticas sustentáveis torna-se cada vez mais crítica.
A terra preta e o biocarvão não apenas oferecem insights sobre a gestão ambiental do passado, mas também apontam para soluções futuras. Conforme Robinson ressalta, a aprendizagem com as práticas dos povos indígenas da Amazônia é essencial para o desenvolvimento de comunidades sustentáveis, reforçando a ideia de que o passado pode, de fato, iluminar o caminho para o futuro.
*Com informações BBC NEWS
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