A seringueira ajudou a revitalizar a cadeia produtiva da borracha, que se tornou essencial para atender à demanda industrial, gerar renda local e contribuir para a sustentabilidade ambiental.
Por Alfredo Lopes
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A seringueira (Hevea brasiliensis), uma espécie nativa da Amazônia, desempenha um papel vital tanto para a humanidade quanto para o setor industrial. Originária das florestas tropicais da América do Sul, concentrada na Amazônia continental, a seringueira foi introduzida em outras partes do mundo no final do século XIX pelos ingleses, quebrando a lucrativa economia da borracha da Amazônia a partir do início do século XX. As carruagens foram substituídas pelos automóveis graças aos pneus de borracha. Assim como, as luvas hipodérmicas cá nos protegem com as luvas de látex, entre outras comodidades modernas.
Com a instalação do Polo Industrial da Zona Franca de Manaus, há 57 anos, o Setor de Duas Rodas destacou-se como um dos mais pujantes. Entretanto, a região já não oferece insumos necessários para a produção de pneus, onerando a planilha de custos e exigindo políticas públicas para estimular a atividade agrícola e promover o cultivo extensivo da seringueira.
Fonte estratégica de borracha natural
A seringueira é a principal fonte de borracha natural no mundo, devido às suas características exclusivas, como elasticidade, flexibilidade, resistência à abrasão e corrosão, impermeabilidade e fácil adesão a tecidos e ao aço. Essa cultura também é versátil, sendo utilizada para fabricação de móveis, utensílios de cozinha e na construção civil ao final de seu ciclo produtivo. Em projetos de reflorestamento, a seringueira pode atuar como espécie pioneira, contribuindo para a redução do efeito estufa e preservando mananciais e a biodiversidade.
Importância social e econômica
Socialmente, a cultura da seringueira é adequada para pequenos e médios produtores, gerando emprego e renda o ano inteiro e fixando o homem à terra. Estudos mostram que uma família de quatro pessoas pode viver de um seringal com 2.000 a 4.000 árvores. Economicamente, a seringueira é vital para o agronegócio, mas o Brasil importa cerca de 70% da borracha natural dos países asiáticos, uma situação que precisa ser revertida.
Cultivo sustentável e benefícios ambientais
A seringueira pode ser cultivada em associação com outras culturas, reduzindo custos e gerando renda até o início da produção de látex. Em áreas de pequenos produtores, culturas de ciclo curto como arroz e milho, e perenes como cacau e café, podem ser cultivadas entre as seringueiras. Esse cultivo sustentável também contribui para o sequestro de carbono, com cada hectare de seringueira aos 30 anos sequestrando 135 toneladas de carbono.
Desafios e oportunidades na cadeia produtiva da borracha
A heveicultura enfrenta desafios que requerem medidas urgentes. No estado de São Paulo, maior produtor nacional de coágulo, cerca de 30 mil sangradores vivem da extração do látex, destacando a importância econômica e social da seringueira. Políticas para elevar as alíquotas de importação da borracha natural podem melhorar a remuneração dos sangradores e evitar a erradicação de seringais.
Adensamento da cadeia em mutirão
Em maio, ocorreu o 1º Workshop do Adensamento da Cadeia da Borracha, coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (Sedecti). O evento reuniu extrativistas, representantes industriais, governamentais e da sociedade civil para discutir estratégias de valorização da borracha e melhoria da qualidade de vida dos seringueiros. O Polo Industrial de Manaus – PIM tem grande demanda por borracha para produção de pneus e outros produtos mecânicos, mas atualmente importa borracha devido à falta de organização na cadeia produtiva local.
Iniciativas e tecnologias para o cultivo da seringueira
A Embrapa Amazônia Ocidental apresentou tecnologias para o cultivo da seringueira, como a seringueira tricomposta, resistente ao fungo causador do mal-das-folhas. Essas tecnologias permitem o cultivo em áreas alteradas, facilitando o trabalho dos seringueiros. Além disso, iniciativas como a do Memorial Chico Mendes visam revitalizar o extrativismo, capacitando seringueiros e promovendo a rastreabilidade da borracha. Outro ator engajado na empreitada é o IDESAM, responsável pelo Programa Prioritário de Bioeconomia da Suframa, que enxerga na borracha nativa um resgate de uma atividade que está no DNA produtivo da Amazônia. Trabalhar com a Embrapa é uma premissa sagrada.
Políticas públicas e superação de obstáculos
A logística para o beneficiamento da borracha é um dos gargalos na cadeia produtiva. Algumas empresas enviam a matéria-prima para beneficiamento na Bahia, aumentando os custos. A Ruberon, instalada em Iranduba-AM, possui capacidade de processamento de 600 toneladas ao mês, mas enfrenta a falta de matéria-prima. O evento também destacou ações do Governo do Estado para apoiar a cadeia produtiva da borracha, incluindo subvenção estadual do preço e políticas públicas para o setor.
Desafios e saídas
A seringueira é uma espécie de importância estratégica para a Amazônia e o setor industrial, oferecendo benefícios sociais, econômicos e ambientais. A revitalização da cadeia produtiva da borracha e o cultivo sustentável da seringueira são essenciais para atender à demanda industrial, gerar renda local e contribuir para a sustentabilidade ambiental. Políticas públicas e iniciativas de cooperação entre governos, empresas e a sociedade civil são fundamentais para fortalecer essa cadeia produtiva e garantir um futuro sustentável para a heveicultura na Amazônia.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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