Uma equipe de pesquisadores deu início a uma expedição pioneira no Rio Negro nesta terça-feira (20), com o objetivo de explorar a diversidade de peixes-elétricos, pertencentes à ordem dos Gymnotiformes, em igarapés e outros ecossistemas aquáticos da região amazônica. Coordenada por Naercio Menezes, professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), a missão não só visa identificar novas espécies, mas também fortalecer a conscientização sobre a importância da preservação da biodiversidade local.
O projeto, intitulado “Diversidade e Evolução de Gymnotiformes”, está em andamento desde 2017 e já resultou na descoberta e descrição de duas novas espécies de poraquê em 2019, uma das quais capaz de gerar descargas elétricas de até 650 volts. Essas descobertas, inclusive mencionadas pelo jornal New York Times, sublinham a relevância global do estudo para a ciência e a conservação.
Menezes destaca a importância do Museu de Zoologia como referência no estudo de peixes de água doce, tanto no Brasil quanto na América do Sul, e enfatiza o compromisso do projeto com a preservação ambiental. Segundo ele, a pesquisa busca evidenciar a rica diversidade biológica da região e os riscos impostos por atividades humanas como a construção de hidrelétricas, queimadas, mineração e desmatamento.
Entre as espécies alvo da expedição está a rara Iracema caiana, coletada uma única vez em 1968. A equipe, composta por cerca de 20 pessoas, incluindo pesquisadores e tripulação, navegará do Rio Negro, partindo de Manaus até Santa Isabel do Rio Negro, até o dia 2 de março. Este período foi escolhido estrategicamente para aproveitar as condições pós-seca na região amazônica, o que potencialmente aumenta as chances de encontrar peixes em áreas onde as águas se concentraram.
Além da coleta tradicional, a expedição empregará técnicas modernas de estudo, como análises moleculares e de DNA, para uma identificação mais precisa das espécies, complementando os métodos morfológicos e anatômicos. A expectativa é que os resultados da missão contribuam significativamente para o conhecimento científico e a conservação da biodiversidade aquática na Amazônia.
Pesquisadores revelam comportamento predatório social em peixes-elétricos amazônicos
Naercio Menezes, coordenador do projeto “Diversidade e Evolução de Gymnotiformes” e professor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), compartilhou descobertas fascinantes sobre o comportamento de peixes-elétricos na Amazônia, especialmente os poraquês. Contrariando as suposições anteriores, a pesquisa revelou que esses peixes não se alimentam de forma isolada, mas sim através de um método cooperativo de predação social.
Os peixes-elétricos utilizam a eletricidade não apenas como um mecanismo de defesa ou para navegação, mas também como uma ferramenta eficaz na captura de presas e na comunicação entre si. Especificamente, os poraquês demonstraram uma técnica impressionante de caça em grupo, na qual cercam pequenos peixes, conhecidos como piabinhas, e os imobilizam com choques elétricos contínuos. Esta estratégia faz com que as presas saltem fora da água, momento em que são prontamente capturadas pelos predadores.
Este comportamento predatório social é uma revelação no estudo dos Gymnotiformes, indicando uma complexidade comportamental e social maior do que se conhecia anteriormente entre essas espécies. A capacidade de realizar predação social sugere não apenas uma sofisticação na forma como esses peixes se alimentam, mas também implica em uma organização e comunicação intrínseca entre os membros do grupo durante a caça.
As descobertas do projeto, que já identificou e descrito novas espécies de peixes-elétricos, incluindo uma capaz de emitir descargas de até 650 volts, continuam a expandir o entendimento da biodiversidade na Amazônia e a importância de preservar esses ecossistemas únicos. A pesquisa destaca a necessidade de proteger a fauna aquática amazônica não só pela sua diversidade biológica, mas também pela sua complexidade comportamental e ecológica
*Com informações Agência Brasil
Comentários