O Rio Madeira enfrenta um dos maiores afluentes do Rio Amazonas, enfrenta a pior seca registrada para o mês de agosto em 57 anos, com o nível das águas caindo para menos de 2 metros
Essa situação alarmante, segundo especialistas, está longe de melhorar, pois a estiagem extrema que atinge Rondônia continua a baixar o nível do rio, ultrapassando as mínimas históricas. O cenário se agrava com a ausência de chuvas significativas há mais de três meses, intensificando a crise hídrica na região.
Efeitos devastadores nas comunidades ribeirinhas
Para as comunidades ribeirinhas que dependem diretamente das águas do Rio Madeira para sua sobrevivência, os impactos da seca são devastadores. Na comunidade Maravilha, localizada na zona rural de Porto Velho, aproximadamente 400 famílias enfrentam a escassez total de água. Com os poços amazônicos secando rapidamente, as opções para obter água potável se tornaram escassas, forçando os moradores a buscar alternativas desesperadas.
“Aqui sempre dependemos do rio para tudo, mas agora até os poços secaram. Ver os igarapés secos e os peixes mortos é uma tristeza imensa”, diz Maria da Conceição Gomes Santana, uma aposentada que vive na comunidade há décadas. O agricultor Arnaldo Brito, que também reside na região, relata os desafios diários que enfrenta: “Minha horta está morrendo porque não há água para irrigar. Só conseguimos água do Rio Madeira, mas até isso está difícil porque, se colocamos uma bomba, corremos o risco de ter ela roubada.”
Além do impacto humano, a seca histórica ameaça gravemente a biodiversidade local. O Rio Madeira abriga mais de 40% de todas as espécies de peixes da bacia amazônica. No entanto, com a queda abrupta do nível da água, muitas dessas espécies, incluindo o pirarucu e o surubim, estão morrendo em grande número. Esses peixes, que são parte fundamental da cadeia alimentar e da cultura local, estão desaparecendo à medida que seus habitats naturais se transformam em áreas secas e inóspitas.
A origem da crise: falta de chuvas nas nascentes
O Rio Madeira depende em grande parte das chuvas que ocorrem nas regiões montanhosas do Beni, na Bolívia, e nas encostas do Peru para se manter cheio durante todo o ano. No entanto, conforme explica Caê Moura, superintendente do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam), as chuvas nessas regiões estão extremamente abaixo da média: “A escassez de precipitações nas áreas que abastecem o Rio Madeira é um dos fatores principais para essa crise. Não temos previsão de chuva forte para os próximos meses, o que significa que o rio continuará baixando.”
Essa situação se torna ainda mais grave quando se considera que o Rio Madeira não conseguiu se recuperar da seca do ano anterior, deixando as comunidades ribeirinhas em uma situação ainda mais vulnerável. Francilene, uma moradora da área, está entre aqueles que enfrentam diariamente a dificuldade de acesso à água. “O poço que usávamos para captar água secou completamente. Agora, eu dependo dos vizinhos para conseguir água para beber, cozinhar e até para cuidar das minhas plantas”, relata.
Resposta das autoridades: uma ação emergencial
Com a situação se agravando, a Defesa Civil de Porto Velho anunciou que iniciará uma operação emergencial de distribuição de água potável às comunidades ribeirinhas mais afetadas. Segundo a Defesa Civil, a operação começará na próxima semana e terá como objetivo fornecer um alívio temporário à população enquanto soluções a longo prazo são avaliadas.
Especialistas em meio ambiente alertam que, além das ações emergenciais, é necessário desenvolver políticas de mitigação e adaptação para lidar com as mudanças climáticas, que têm tornado os eventos de seca cada vez mais frequentes e severos na região amazônica. A preservação do Rio Madeira e de sua bacia é crucial não apenas para as populações locais, mas para toda a biodiversidade que depende desse ecossistema para sobreviver.
*Com informações G1
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