Rio Madeira atinge seca histórica, afetando comunidades locais e colocando em risco a geração de energia nas principais usinas hidrelétricas da região
O Rio Madeira, um dos maiores rios do mundo, atravessa uma das secas mais severas já registradas. Em julho, o nível da água atingiu mínimos históricos, chegando a 2,45 metros no dia 31, o nível mais baixo já registrado no mês de julho em 57 anos de monitoramento pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). Durante este período do ano, o nível de água deveria estar em torno de 5,50 metros, mas atualmente está cerca de 3 metros abaixo do esperado.
Causas da seca no Rio Madeira
A escassez de água no Rio Madeira tem duas causas principais, de acordo com Marcus Suassuna, engenheiro hidrólogo e pesquisador em geociências pelo SGB:
- Aquecimento do Oceano Atlântico Norte: O Atlântico Norte está mais aquecido do que o normal, superando as temperaturas do Atlântico Sul.
- Fenômeno El Niño: Este fenômeno causa atrasos no início da estação chuvosa e enfraquecimento das chuvas iniciais do período.
Esses fatores resultaram em uma estação chuvosa muito pobre, levando a cheias abaixo da média em 2024 e, consequentemente, aos níveis anormalmente baixos do rio este ano.
Impacto nos moradores
A comunidade brasileira situada no Baixo Madeira já está sentindo os efeitos da seca. Mais de nove famílias perderam o acesso à água limpa após o único poço da região, com 8 metros de profundidade, secar, de acordo com a Defesa Civil Municipal. Em Terra Firme, também no Baixo Madeira, a situação é igualmente preocupante. Os moradores, que já precisavam descer uma longa escada para chegar ao rio, agora enfrentam uma caminhada de 30 minutos devido ao surgimento de bancos de areia.
Sem poços artesianos ou água tratada, a população depende de bombas de drenagem, mas a distância ao rio e o comprimento limitado das mangueiras complicam o acesso à água. “Com a seca, a distância só aumentou e a mangueira da bomba não chega mais. É um sofrimento,” diz Maria de Fátima, residente de Terra Firme.
Consequências para a geração de energia
O Rio Madeira, com mais de 3 mil km² de extensão, abriga duas das maiores usinas hidrelétricas do Brasil: Jirau e Santo Antônio. Juntas, elas representam cerca de 7% da capacidade de geração do sistema elétrico brasileiro e são partes essenciais do Sistema Interligado Nacional (SIN).
A Agência Nacional de Águas (ANA) já sinalizou a possibilidade de paralisação da hidrelétrica de Santo Antônio devido à seca. Essa usina opera em um formato de “fio d’água”, ou seja, não armazena grandes quantidades de água, dependendo do fluxo constante do rio para funcionar. Se a vazão do rio cair muito, as turbinas podem ser danificadas por falta de água. A hidrelétrica de Jirau, no entanto, possui maior flexibilidade e ainda não corre risco de paralisação.
O aquecimento contínuo do Atlântico Norte é outra preocupação destacada pelo Censipam, pois isso pode agravar ainda mais a seca nos rios de Rondônia, incluindo o Rio Madeira. Com os efeitos da seca se intensificando, é crucial que medidas sejam tomadas para mitigar esta crise hídrica e seus impactos na população e na geração de energia.
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