“A recuperação da BR-319 não é apenas uma questão de desmatamento ou proteção ambiental. É uma escolha brasileira que deve ser feita com premissas claras, estratégias bem definidas e resultados mensuráveis[…] Com um trabalho coletivo e a visão de um futuro próspero, a estrada pode finalmente cumprir seu propósito original, conectando regiões e promovendo o desenvolvimento econômico e social, sempre em harmonia com a preservação ambiental. Será dessa vez? A resposta depende de nós, brasileiros, e da nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de um futuro melhor para todos”.
Por Alfredo Lopes
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Coluna Follow-Up
A questão “Dessa vez vai?” ecoa no ar há mais de três décadas, repetida de diversas formas por vários atores com argumentos distintos. A BR-319, com seus 918 quilômetros de extensão, atravessando o Bioma Amazônico, representa um ponto central de debate e controvérsia no Brasil. Originalmente aberta nos anos 70 sob o lema “Pra Frente Brasil”, a estrada foi um marco de progresso, mas também um símbolo de desafios ambientais e políticos.
Caminho de impasses e abandono
As obras da BR-319 começaram em 1968, mas a conclusão nunca foi alcançada. Décadas de impasses, abandono e falta de manutenção culminaram no fechamento da rodovia em 1988. Desde então, mais recursos foram investidos em estudos de impactos ambientais do que seria necessário para recuperar o traçado com boa qualidade. A estrada, que deveria ser um vetor de desenvolvimento, transformou-se em um cenário de debates ambientais sem propósitos consistentes.
O real motivo: desinteresse e outras prioridades
O motivo real para a não recuperação da BR-319 pode ser traduzido pelo desinteresse. Um custo alto para um Brasil focado em múltiplas premências. Outras prioridades sempre falaram mais alto. No entanto, atualmente, surge um documento inédito de 100 páginas que nos enche de esperanças. Este documento, tecnicamente admirável, ambientalmente coerente, politicamente decente e economicamente promissor, promete mudanças significativas a partir do momento em que o Brasil começar a trabalhar em mutirão. É proibido sentar e esperar. As mangas devem estar arregaçadas pra assegurar o desafio e, principalmente, para transformar cada amazônida em vigia.
Desmatar ou proteger? A real escolha que o Brasil precisa fazer
A recuperação da BR-319 não é apenas uma questão de desmatamento ou proteção ambiental. É uma escolha brasileira que deve ser feita com premissas claras, estratégias bem definidas e resultados mensuráveis. Trabalhar em mutirão em projetos de desenvolvimento sustentável da Amazônia é a melhor escolha, com métricas, resultados e produtos surpreendentes. Esta abordagem beneficiaria os 30 milhões de brasileiros da região e estaria alinhada com um Brasil inteligente, responsável, coerente e criativo.
Principais embaraços históricos
A BR-319, junta Roraima e Amazonas a Rondônia e daí rumo ao Brasil a proteger e a prosperar. São quase mil quilômetros de extensão, atravessando o exuberante e enigmático bioma amazônico. Mais do que nunca a proteção de um bem natural tão imensurável exige um investimento econômico. No entanto, o projeto nunca foi concluído, parou numa inauguração aloprada sem assegurar as providências estratégicas de seu uso sustentável e gerador de oportunidades para milhares de brasileiros atraídos por promessas inconsequentes. Enfrentamos, daí em diante, décadas de impasses, abandono e decretação de terra de ninguém. Desde o início, a BR-319 foi marcada por embates ideológicos e pela absoluta inapetência da gestão nacional em compreender e ocupar inteligentemente a região.
Cooperação e superação
O debate sobre a pavimentação e recuperação da estrada foi retomado nos anos 2000, desta vez considerando os desafios ambientais e de governança. Esforços para pavimentar e recuperar a estrada enfrentaram desafios como a necessidade de conciliar infraestrutura com preservação ambiental. Recentemente, avanços significativos foram feitos, como a inclusão dos estudos para a pavimentação no Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a previsão de um acordo de cooperação técnica entre várias entidades e de superação de verdade.
Um novo tempo: propício para a prosperidade
Não se trata de um projeto governamental ou político específico, mas sim de uma escolha coletiva para construir um novo tempo de prosperidade, solidariedade e comunhão na perspectiva da brasilidade. A BR-319 representa um desafio e uma oportunidade. Sua recuperação, considerando os avanços recentes, a vontade política e, provavelmente, a descoberta de que seria necessário um olhar mais próximo e sem preconceitos para descobrir vantagens e avanços da tomada de decisão. E, sem sombra de dúvidas, a presença das lideranças empresariais do Norte em Brasília, foi decisiva para inaugurar uma interlocução madura e frutuosa.
Sem ingenuidade nem timidez
A recuperação da BR-319 é um símbolo da capacidade da Amazônia em revelar traços e indícios de seus encantos, provocações e soluções. E também um exemplo do Brasil de superar desafios e absorver os avanços da História. Um deles, vital e emergencial é o de promover um desenvolvimento sustentável com todo o alcance que este termo carrega. Com um trabalho coletivo e a visão de um futuro próspero, a estrada será um detalhe da mudança que pode, finalmente, cumprir seu propósito original, conectando regiões e promovendo o desenvolvimento econômico e social, sempre em harmonia com a preservação ambiental.
De quebra, podemos sonhar com a pacificação, algo muito mais rentável e benfazejo do que o desamor e a desinformação. Será dessa vez? A resposta depende de nós, brasileiros, e da nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de um futuro melhor para todos, sem ingenuidade nem timidez.
Alfredo é filósofo, foi professor na Pontifícia Universidade Católica em São Paulo 1979 – 1996, é consultor do Centro da Indústria do Estado do Amazonas, ensaísta e co-fundador do portal Brasil Amazônia Agora
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