Qual o plano de ação se a seca de 2024 for igual ou pior que em 2023? Afinal, não podemos desconhecer a sazonalidade deste evento nos rios da Amazônia, nem o risco de ele ser igual ou pior. É claro que cada um afirmará seus planos para a positividade almejada, mas a questão é: como enfrentaremos o assunto na nossa coletividade?
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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O foco no negativo permeia as conversas nacionais, salvo raras exceções. Recentemente, o empresário Denis Minev, em um debate que dividimos sobre o potencial da bioeconomia na Amazônia, afirmou que vivemos em um país “sem ambição”. Concordando, adiciono, estamos em um país sem projetos nacionais e sem objetivos coletivos, com focos vagos para onde vamos, onde prevalecem os desejos individuais, dissociados do coletivo.
A mídia convencional e as redes sociais priorizam manchetes que atendem aos interesses do mercado financeiro em vez da sociedade em geral. Quando abordam segmentos sociais, focam apenas no sensacionalismo e não nas propostas complexas e nos desafios das soluções.
O diálogo mais horizontalizado do século XXI tem sido próspero na construção dos conflitos, mas difícil de construir saídas e soluções para as coletividades. Neste contexto, quando outubro chegar, virá junto uma seca mais severa na Amazônia? Será que isso afetará a navegabilidade dos rios? Certamente, mas em qual medida? Neste meio tempo, vivemos uma incerteza repleta de adivinhos e de foco no ganho particular.
Traçado o cenário, fica a pergunta: qual será o projeto coletivo associado com esta incerteza? Qual a ambição que temos? Qual o projeto que temos como sociedade? Recuperar uma rodovia? Fazer dragagem no rio? Será que a dragagem resolve? No ano passado ficou evidente que a dragagem foi inútil. Por que insistimos no mesmo método ineficaz para o mesmo problema potencial? São tantos projetos frustrados na Amazônia e no país que nos acostumamos a ver problemas e justificativas para não fazer, pois temos pouca história celebradas de construções coletivas.
Quando realizamos o crescimento do PIB, as manchetes recentes apontavam os problemas do crescimento, como destacou Flávia Boggio, em sua coluna da Folha de São Paulo, em 07 de março. Quando há encolhimento, as manchetes seguintes vendem o caos. Ou seja, nada nos agrada e nada objetivamos. Afinal, crescer ou encolher, tanto faz: encontraremos algo negativo para nos apegar. Assim, fica difícil encontrar a alegria e otimismo que são associados com a prosperidade e os projetos coletivos.
Tentando adotar postura alternativa, haverá um evento no início de abril, onde perguntamos aos principais armadores e às principais instituições que lidarão com o problema da seca em 2024: qual o plano de ação se a seca de 2024 for igual ou pior que em 2023? Afinal, não podemos desconhecer a sazonalidade deste evento nos rios da Amazônia, nem o risco de ele ser igual ou pior. É claro que cada um afirmará seus planos para a positividade almejada, mas a questão é: como enfrentaremos o assunto na nossa coletividade?
Se o governo apostar na dragagem, sem ter certeza se ela pode funcionar, ficaremos muito desapontados. Se os armadores exigirem a dragagem – a mesma que nada resolveu – ficaremos decepcionados. Se as condições climáticas e as medidas deste ano repetirem o passado recente, teremos o mesmo resultado: ao menos R$ 1,4 bilhões de prejuízo para a sociedade e alguns poucos se beneficiando. Esperamos encontrar uma solução coletiva mais adequada nos dias 02 e 04 de abril.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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