Sistema reforça papel da floresta como “oceano verde” e derruba a hipótese de que partículas que impactam nas chuvas na Amazônia se originariam exclusivamente em altitudes superiores
Um estudo divulgado pela revista científica Nature revela novos mecanismos envolvidos na formação de chuvas na Floresta Amazônica que evidenciam sua capacidade de influenciar a formação de nuvens e o ciclo hídrico global. A pesquisa mostra que as interações químicas impulsionadas pela floresta podem produzir aerossóis com potencial de contribuir significativamente para o clima, formando nuvens e precipitações.
A pesquisa, publicada na última sexta (08), foi realizada com uma equipe internacional de pesquisadores do Brasil, Alemanha e Suécia, e desafia suposições anteriores sobre a origem dessas partículas e derruba a hipótese de que elas se originariam exclusivamente em altitudes superiores.
Tal descoberta reforça o papel da floresta como um “oceano verde”, onde a umidade, os aerossóis e a formação de chuvas atuam em um ciclo de retroalimentação. O funcionamento desse ciclo se inicia com a chuva, quando há um aumento na concentração de ozônio que oxida moléculas naturalmente liberadas por gases exalados pela floresta, os chamados compostos volatéis orgânicos. A oxidação produz novas partículas muito pequenas logo acima do topo das árvores, em uma espécie de explosão de nanopartículas. Essas partículas, por sua vez, dão origem a núcleos de condensação – ou seja, superfícies onde o vapor pode se transformar em gotículas – que levam outra vez à formação de nuvens, mesmo em condições de ar puro na estação chuvosa.
“É uma simbiose que ocorre em todo o processo. A chuva por um lado limpa a atmosfera, reduzindo o número de partículas. Porém, ao mesmo tempo inicia um processo de formação de novas partículas que vão crescer e servir como núcleo de condensação para a próxima chuva”, explica em entrevista à Agência FAPESP o professor Luiz Augusto Toledo Machado, autor correspondente do artigo, pesquisador do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) e colaborador do Departamento de Química do Instituto Max Planck, na Alemanha.
Os pesquisadores do estudo observaram que as concentrações de partículas aumentam após as chuvas e se concentram especialmente perto do topo das árvores, conhecido como dossel. Isso sugere que as partículas são formadas diretamente dentro da floresta e não vêm de fontes externas ou altitudes superiores. Esse processo ocorre continuamente mesmo durante a estação chuvosa, que vai de dezembro a maio, evidenciando uma produção constante e renovação de partículas no dossel e indicando uma nova população de aerossóis formados localmente.
Chuvas na Amazônia e o impacto no balanço da Terra
Segundo os cientistas, esses resultados são essenciais para entender como mudanças nos padrões de chuvas na Amazônia pode afetar não só o clima global, mas a estabilidade ecológica. “Essas interações são críticas para compreender alterações no balanço radiativo da Terra, especialmente à medida que as mudanças climáticas influenciam a circulação atmosférica, como os eventos de El Niño e La Niña”, explica Ulrich Pöschl, diretor do Departamento e também coautor do trabalho, em comunicado da instituição.
Para mais informações sobre a pesquisa, é possível conferir o artigo completo em inglês publicado na Nature clicando aqui.
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