A infraestrutura que a Amazônia precisa no século XXI necessita ser resiliente ao aquecimento global e compatível com as necessidades das multiplicidades de possibilidades da bioeconomia e da alta tecnologia, desfavorecendo as rotas e os arcos de desmatamento que convivemos no passado
Por Augusto Cesar Barreto Rocha
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A união por objetivos compartilhados é o mínimo que se espera de uma sociedade, pois nela há ganho para todos, enquanto na divisão, há vitória para um lado e derrota para o outro. O entendimento desta simples filosofia deveria nos fazer olhar para um projeto de país e de regiões, compartilhados pela sociedade.
O problema surge quando somos brasileiros ganhando e outros brasileiros perdendo, pois chegaremos a um jogo pior do que a soma zero, pois será um jogo que mesmo que ganhemos, o resultado será a perda. Este é o cenário atual da infraestrutura na Amazônia.
Superar este comportamento secular é o grande desafio contemporâneo para a construção de infraestruturas na região amazônica, pois perdemos a capacidade de dialogar para criar um projeto conjunto de país. Mesmo depois de tantas lições e desperdícios no período 2013-2023, onde tivemos outra década perdida, ainda não conseguimos perceber que um projeto de país depende da união por um conjunto de causas comuns, que envolverão mais formalismo, mais investimentos, mais educação, mais tecnologia, ao invés de um regresso a um primitivismo destruidor
Queimadas na BR-319 (Foto: Orlando K. Junior / Fundação Amazonas Sustentável)
A resiliência ganhou fama nos últimos anos como um adjetivo do comportamento profissional, mesmo que derivada da ciência dos materiais, onde uma peça pode voltar ao seu estado “normal” depois de submetida a uma tensão. No Amazonas, possuímos quase nenhuma infraestrutura, que está muito aquém do necessário e está nela uma das grandes deficiências regionais para a criação de condições de crescimento.
O fenômeno da seca de 2023 na região Amazônica, que insiste em não nos deixar, demonstra o quanto precisaremos repensar de nossa infraestrutura para enfrentar o aquecimento global e as novas oportunidades de produtos para o Polo Industrial de Manaus, que possui muitas oportunidades no continuar da reforma tributária e das novas demandas globais por produtos de base tecnológica e biotecnológica
Insumos PIM prejudicados pela seca extrema – Foto divulgação
Podemos criar na Amazônia as condições de fatores que favoreçam veículos autônomos transitando nas rodovias ou drones como veículos de monitoramento, bem como um espaço para uma futura indústria de semicondutores, que já foi debatida em outros momentos.
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Há um espaço expressivo para uma infraestrutura sustentável na Amazônia. Precisamos encontrar um caminho de novos métodos construtivos e de gestão que não visem a destruição da floresta. A infraestrutura que a Amazônia precisa no século XXI necessita ser resiliente ao aquecimento global e compatível com as necessidades das multiplicidades de possibilidades da bioeconomia e da alta tecnologia, desfavorecendo as rotas e os arcos de desmatamento que convivemos no passado.
Os efeitos nefastos poderão ser contornados com a construção de alta tecnologia nacional para monitoramento e proteção do delicado ecossistema. Há uma bela rota de desenvolvimento em várias dimensões, se encontrarmos este projeto conjunto de país.
Augusto Rocha é Professor Associado da UFAM, com docência na graduação, Mestrado e Doutorado e é Coordenador da Comissão CIEAM de Logística e Sustentabilidade
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