Segundo pesquisa do MapBiomas, os períodos de cheias estão cada vez menores e os de secas cada vez mais prolongados, o que tem favorecido incêndios no Pantanal
Localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Pantanal foi alvo da explosão de focos de incêndio ao longo de 2024, com dados alarmantes que indicam um aumento significativo na área queimada em comparação aos anos anteriores. Ao estudar esse cenário, uma pesquisa do MapBiomas, divulgada na última terça (12) – data em que é celebrado o Dia Nacional do Pantanal -, mostra que a área alagada do bioma vem diminuindo nas últimas décadas. A razão é que os períodos de cheias estão cada vez menores e os de secas cada vez mais prolongados. O resultado é um favorecimento de ocorrência de incêndios mais intensos na maior planície alagável do mundo.
Entre janeiro e junho de 2024, a área queimada ultrapassou 530 mil hectares, mais do que o dobro do que foi registrado no mesmo período de 2020. Em junho de 2024, a área queimada foi equivalente a três vezes o tamanho da cidade de São Paulo, segundo o MapBiomas.
“Com 3,3 milhões de hectares de área alagada, o ano passado foi 38% mais seco que 2018, quando ocorreu a última grande cheia do bioma, que cobriu 5,4 milhões de hectares. Essa extensão, no entanto, já era 22% mais seca que a de 1988 (primeira grande cheia da série histórica, que cobriu 6,8 milhões de hectares)”, diz o estudo mais recente do MapBiomas.
O estudo aponta que a mudança no padrão de cheias e secas no Pantanal tem impacto direto na incidência de queimadas no bioma. Entre 1985 e 1990, as queimadas ocorriam principalmente em áreas naturais em processo de conversão para pastagens. Após a última grande cheia registrada em 2018, os incêndios se tornaram mais recorrentes, especialmente no entorno do Rio Paraguai, indicando uma ligação entre a diminuição de água e a vulnerabilidade ao fogo na região.
A conexão entre pastagens exóticas e os incêndios no Pantanal
Os dados revelaram um aumento significativo nas áreas de pastagens exóticas no Pantanal – ou seja, espécies de plantas que compõem pastagens artificiais ou cultivadas, onde a vegetação original foi substituída – indicando uma intensificação do desmatamento para conversão em áreas de pastagem. Segundo Eduardo Rosa, coordenador de mapeamento do bioma Pantanal no MapBiomas, essa mudança tem implicações diretas na dinâmica hídrica da região, contribuindo para a alteração nos padrões de cheias e secas e exacerbando a degradação ambiental no bioma.
“O Pantanal já experimentou períodos secos prolongados, como nas décadas de 1960 a 1970, mas atualmente outra realidade, de uso agropecuário intensivo e de substituição de vegetação natural por áreas de pastagem e agricultura, principalmente no planalto da BAP [Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai], que altera a dinâmica da água na bacia hidrográfica”, diz Rosa.
As pastagens exóticas na planície passaram de 700 mil hectares em 1985 para 2,4 milhões de hectares em 2023, expandindo-se sobre as áreas naturais que foram suprimidas. O aumento ocorreu principalmente nos últimos 23 anos, correspondendo a mais da metade (55%) desse crescimento. Além disso, 87% dessas pastagens apresentam baixo e médio vigor vegetativo, destacando a baixa qualidade e resiliência dessas áreas convertidas.
O estudo também mostra que, na região de planície, a perda de áreas naturais por incêndios no Pantanal foi mais recente e menos intensa que em outras áreas, com um total de 1,8 milhão de hectares de vegetação natural suprimida entre 1985 e 2023. Desses, cerca de 859 mil hectares correspondem a formações campestres e campos alagados, 600 mil hectares a áreas de savana e 437 mil hectares a florestas.