Entre o início de 2023 e julho deste ano, o garimpo ilegal avançou sobre 13.484 hectares de 15 Unidades de Conservação (UCs) nos estados do Amazonas, Pará e Amapá. A destruição dessas áreas protegidas evidencia o crescente impacto do garimpo ilegal na Amazônia, uma atividade impulsionada pelo aumento do preço do ouro, a fragilidade das leis ambientais e a fiscalização insuficiente. Segundo levantamento realizado pelo Greenpeace Brasil, feito com imagens de satélite e sobrevoos, os garimpeiros têm ampliado suas operações, migrando de áreas já exploradas no Pará para regiões mais preservadas no Amazonas.
A pesquisa revelou que 11% da devastação ocorreu em áreas de Proteção Integral — que deveriam estar completamente vedadas a qualquer tipo de exploração —, e 89% ocorreu em reservas de Uso Sustentável, onde a exploração é permitida sob rígidas regras para garantir a conservação dos recursos naturais. A crescente destruição dessas UCs preocupa ambientalistas e autoridades, pois essas áreas desempenham um papel crucial na preservação da biodiversidade, dos recursos hídricos e no combate às mudanças climáticas.
As áreas mais afetadas e o avanço do garimpo ilegal
O levantamento do Greenpeace Brasil identificou que os garimpeiros estão se deslocando do Pará para o Amazonas, expandindo suas atividades ao longo de rios importantes da região, como Tapajós, Jamanxim, Anamã e Parauari. Essa migração revela uma mudança no foco de exploração, que antes se concentrava no Pará, mas agora se espalha para o Amazonas, atraída pela vulnerabilidade dessas áreas e pela crescente demanda por ouro.
O aumento das atividades de garimpo ilegal está diretamente relacionado ao enfraquecimento da fiscalização ambiental, particularmente durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022). O período foi marcado pelo afrouxamento de leis de proteção ambiental, redução de recursos para órgãos fiscalizadores, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), e pela promoção de políticas que favoreceram a exploração econômica da Amazônia.
Além disso, a valorização do ouro no mercado internacional nos últimos anos tem incentivado o aumento do garimpo, especialmente em áreas remotas e de difícil controle. A alta cotação do metal precioso atrai não só garimpeiros em busca de lucros rápidos, mas também grandes redes de crime organizado que financiam essas operações, fornecendo equipamentos e recursos logísticos.
Consequências socioambientais
A devastação provocada pelo garimpo ilegal vai além da destruição ambiental. As consequências sociais e econômicas são profundas e atingem, principalmente, as populações indígenas e as comunidades tradicionais que habitam essas áreas. O avanço do garimpo em terras protegidas resulta na violação dos direitos desses povos, que têm suas terras invadidas, seus recursos naturais explorados e suas culturas ameaçadas. A contaminação de rios e solos com mercúrio, utilizado na separação do ouro, traz graves riscos à saúde das comunidades locais, comprometendo sua subsistência e segurança alimentar.
Economicamente, o garimpo ilegal gera enormes prejuízos ao país. A sonegação de impostos e o comércio clandestino de ouro enfraquecem a arrecadação pública, privando os governos federal e estadual de recursos que poderiam ser destinados à saúde, educação e proteção ambiental. Além disso, a prática fortalece o crime organizado, que usa o lucro gerado pelo garimpo para financiar outras atividades ilícitas, como o tráfico de drogas e armas.
A importância das unidades de conservação
As Unidades de Conservação (UCs) são áreas criadas pelos governos federal, estadual e municipal com o objetivo de proteger a biodiversidade, os recursos naturais e as paisagens brasileiras. Essas áreas são fundamentais para a preservação dos ecossistemas, uma vez que abrigam espécies ameaçadas de extinção, contribuem para a manutenção dos recursos hídricos e servem como barreira contra a expansão do desmatamento. Além disso, desempenham um papel essencial no combate às mudanças climáticas, atuando como sumidouros de carbono, absorvendo grandes quantidades de gases de efeito estufa.
Dentro das UCs, existem dois tipos principais de áreas: as de Proteção Integral, onde qualquer atividade de exploração econômica é proibida, e as de Uso Sustentável, que permitem o uso dos recursos naturais de forma controlada, com o objetivo de conciliar a conservação ambiental com o desenvolvimento econômico local. No entanto, o avanço do garimpo ilegal tem comprometido a eficácia dessas áreas em cumprir seus objetivos de conservação, colocando em risco a biodiversidade e a integridade dos ecossistemas amazônicos.
Medidas urgentes são necessárias para fortalecer os órgãos de fiscalização ambiental, aumentar as operações de controle e aplicar sanções rigorosas contra os responsáveis pela destruição. Além disso, é fundamental reverter o desmonte das políticas de preservação e investir em programas de conservação e manejo sustentável das UCs, garantindo que essas áreas continuem a desempenhar seu papel crucial na proteção da Amazônia.
O avanço do garimpo ilegal em Unidades de Conservação na Amazônia revela um problema de grandes proporções, com implicações ambientais, sociais e econômicas. A destruição dessas áreas protegidas coloca em risco a biodiversidade, agrava as mudanças climáticas e ameaça a sobrevivência das populações indígenas e tradicionais. O aumento da fiscalização, o fortalecimento das leis ambientais e o combate ao crime organizado são passos essenciais para proteger a Amazônia e suas Unidades de Conservação, garantindo que elas continuem a desempenhar seu papel fundamental na preservação do meio ambiente e no combate à crise climática global.
*Com informações O ECO
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