Depois de operação do Governo Federal para expulsar garimpeiros de terras Yanomamis, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque enfrenta uma invasão crescente desses trabalhadores ilegais, provocando desmatamento e contaminação dos rios locais com mercúrio, ameaçando a saúde pública e a rica biodiversidade da região, incluindo espécies raras e comunidades indígenas.
O maior parque nacional do Brasil, o Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, está enfrentando sérios problemas com a invasão de garimpeiros ilegais. Esta situação começou a se agravar a partir de 2022, conforme revela um estudo recente do Iepé (Instituto de Pesquisa e Formação Indígena), responsável pelo monitoramento da região.
Desde então, a atividade ilegal resultou na destruição de 122 hectares de vegetação nativa dentro da área protegida, o que corresponde a uma área equivalente a 170 campos de futebol.
O Iepé identificou um crescimento alarmante de 304% na atividade de garimpo ilegal na região do Tumucumaque, especialmente perto da Terra Indígena Waiãpi, localizada ao lado do distrito do Lourenço, em Calçoene, a uma distância de 350 km de Macapá. Esta região tem um histórico de mais de cem anos de exploração garimpeira, de acordo com o instituto.
Comparando os anos de 2021 e 2022, o desmatamento observado na área foi de 30 hectares.
O ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), que é o órgão governamental encarregado da gestão dos parques nacionais, comunicou que está reforçando as medidas de combate ao garimpo ilegal no território, contando com o suporte da Polícia Federal.
Esta entidade, ligada ao MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima), informou também que, ao longo de 2023, foram realizadas duas operações significativas na área. Estas ações resultaram na imposição de multas que totalizam R$ 960 mil, no embargo de 111 hectares e na apreensão de mercúrio e ouro. Equipamentos utilizados nas atividades de garimpo também foram destruídos.
Biodiversidade e cultura no Tumucumaque
O Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque abrange uma vasta área de 38.670 km², representando 26,4% do território do Amapá e se estendendo até o norte do Pará. Fazendo fronteira com a Guiana Francesa e o Suriname, o parque é lar de uma rica biodiversidade, incluindo predadores como a onça-pintada e a suçuarana, além de aves exóticas, como o “raro beija-flor-brilho-de-fogo”, e diversas espécies de primatas, entre eles o macaco-de-cheiro, macaco-prego, cuxiú, parauaçu, guariba e macaco-aranha.
Além da sua rica fauna, o parque é também um lar para várias comunidades indígenas, incluindo as etnias tiryó, wayana, apalai, kaxuyana, e também povos isolados, como os akurio.
A migração dos garimpeiros
Décio Yokota, que coordena a gestão da informação no Iepé, aponta que o crescimento das atividades ilegais de garimpo no Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque está diretamente relacionado com a expulsão de garimpeiros da Terra Indígena Yanomami, situada entre o Amazonas e Roraima.
O Iepé, em colaboração com a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), monitora o avanço do garimpo na região amazônica e busca identificar os envolvidos nessa prática.
Yokota observa que, além do Amapá, outras áreas como a bacia do Tapajós (no Pará) e as terras indígenas Munduruku e Kayapó tornaram-se focos de atração para os garimpeiros. Ele ressalta a importância das operações contra o garimpo ilegal, mas adverte que medidas isoladas não são suficientes para erradicar a atividade, que rapidamente se reestabelece.
Consequências da atividade garimpeira
O representante do Iepé também destaca os graves problemas decorrentes do garimpo, como a contaminação dos rios Araguari, Oiapoque e Jari. Essa poluição representa uma ameaça tanto para a biodiversidade quanto para a saúde pública, especialmente pelo consumo de peixes contaminados com mercúrio.
Yokota enfatiza que, além dos danos ambientais, o garimpo ilegal está associado a outros crimes graves, como tráfico de drogas, atividades do crime organizado e evasão de divisas. Ele alerta para a grave contaminação de solo e rios com mercúrio, usado na extração de ouro, o que resulta em peixes contaminados que são consumidos tanto pelas comunidades tradicionais quanto pela população urbana, incluindo a de Macapá.
Com informações da Folha de São Paulo
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