Em um cenário de nível histórico de baixa no rio Madeira, dragas de garimpo invadem a área, desafiando as recentes ações de fiscalização, e agravam a crise ambiental
O rio Madeira, um dos principais afluentes do Amazonas, enfrenta uma crise sem precedentes com o nível das águas caindo para 79 cm, um recorde histórico de baixa. Esta situação crítica é acentuada pela invasão de dragas de garimpo que, apesar das recentes operações de fiscalização, continuam a operar impunemente.
A seca extrema que afeta a região é a mais severa em 57 anos. O boletim mais recente do Serviço Geológico do Brasil (SGB) confirma que o nível do rio já estava abaixo de 1 metro na semana passada, e continua a recuar. Esse fenômeno coloca em risco os ribeirinhos que dependem do rio para sua sobrevivência, resultando em bancos de areia que dificultam a navegação e a pesca.
Além disso, os moradores tradicionais das margens do Madeira acreditam que a atual crise resulta de uma combinação de fatores, incluindo a falta de chuvas e o garimpo ilegal, conduzido por dragas que operam no principal afluente do rio Amazonas, que faz com que agrave ainda mais a situação.
Em visita à região de Humaitá, no estado da Amazonas, a Folha de S. Paulo constatou a presença de mais de 100 dragas de garimpo ao longo de um trecho de 100 km do rio Madeira. Essas dragas variam de gigantescas embarcações equipadas com sistemas de sucção e trituração avançados a balsas menores usadas por comunidades locais. Muitas das dragas maiores, que possuem ar-condicionado e motores hidráulicos, estão novamente em operação, após 15 dias da destruição de 459 dragas pela Polícia Federal (PF) e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
As dragas são responsáveis por uma alteração drástica no leito do rio, um problema agravado pela seca. A atividade contínua dos garimpeiros, muitas vezes usando mercúrio de forma indiscriminada, está causando danos ambientais profundos. A situação é ainda mais alarmante considerando que o garimpo ilegal é uma prática bem estabelecida na região, frequentemente resistindo às operações de repressão.
Reação e resistência dos garimpeiros
A recente operação da PF e do Ibama, que destruiu centenas de dragas, provocou um protesto violento em Humaitá, onde garimpeiros tentaram atacar as autoridades com rojões e invadir prédios públicos. Apesar da operação, muitas dragas, especialmente as de maior porte, permanecem ativas. Garimpeiros alegam que as ações da fiscalização foram insuficientes e que algumas dragas foram poupadas.
A presença contínua de balsas e dragas de garimpo reflete uma estratégia dos garimpeiros de se instalar em áreas mais próximas das cidades para evitar a fiscalização. A resposta dos órgãos federais, segundo Joel Araújo, superintendente do Ibama, tem sido estratégica, mas reconhece que a quantidade de dragas é tão grande que uma única operação não pode resolver o problema de forma definitiva.
Impactos econômicos e ambientais
A crise no rio Madeira tem impactos profundos para as comunidades locais. Muitos ribeirinhos, que tradicionalmente dependem da pesca e da agricultura familiar, estão vendo suas condições de vida se deteriorarem. As dragas de maior porte, que custam mais de R$ 1 milhão, são frequentemente geridas por intermediários, enquanto os donos dessas embarcações criminosas delegam a operação de garimpagem. Essas dragas contribuem significativamente para a degradação ambiental.
Embora ilegal, o garimpo é visto como um complemento importante de renda agricultura familiar, da pesca e do extrativismo. De acordo com garimpeiros mais experientes afirmam que uma draga pequena, cujo deslocamento precisa de um rebocador, custa aproximadamente R$ 40 mil e R$ 70 mil.
Com isso, a contínua destruição e reconstrução de balsas demonstram a resiliência e adaptação dos garimpeiros às condições adversas e à fiscalização. Muitos garimpeiros que perdem suas embarcações acabam migrando para a agricultura familiar, cultivando bananas e outros produtos na região.
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